Título: Índios ocupam gasoduto na Bolívia
Autor: Stella Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/08/2006, Economia, p. B5

O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, disse ontem, durante inauguração da primeira unidade de gás natural liquefeito (GNL) do País, em Paulínia (SP), que a estatal não vê risco de desabastecimento de gás boliviano por causa do protesto de índios pertencentes à Assembléia do Povo Guarani (APG).

Dezenas de índios da APG ocupam, desde a tarde de domingo, uma estação de controle do gasoduto de Transierra - consórcio do qual fazem parte a brasileira Petrobrás, a hispano-argentina Repsol-YFP e a francesa TotalFinalElf. O presidente do grupo, Wilson Changarray, ameaça fechar uma válvula, o que pode prejudicar o fornecimento de gás ao Brasil. Pela estação, no sudeste da Bolívia, passam diariamente 11 milhões de metros cúbicos de gás. A APG quer US$ 9 milhões, a título de "direito de passagem", como ficou fixado no ano passado.

"Mesmo em momentos mais críticos, sempre enfatizamos a confiança na continuidade do suprimento", disse Gabrielli. Segundo ele, representantes do Ministério da Agricultura boliviano se reunirão com os índios hoje, às 15 horas, para tentar negociar uma retirada do local.

O governo do presidente boliviano, Evo Morales, também assegurou que o fornecimento de gás para o Brasil não será prejudicado.

PREÇO DO GÁS

O presidente da Petrobrás mostrou-se irritado com as afirmações feitas na sexta-feira pelo ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, de que a estatal já trabalha com a possibilidade de reajuste no do gás boliviano. Segundo Gabrielli, a próxima reunião com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) para discutir o preço do gás está marcada para 14 de setembro. "O que se tem de certo é que há duas semanas a YPFB e a Petrobrás acordaram em estender a negociação por mais 60 dias e a próxima reunião será em 14 de setembro."

O presidente da Petrobrás lembrou que a estatal brasileira lançou mão da mesma cláusula do contrato que permite questionar a fórmula de preços em 2003. A solicitação de revisão, entretanto, foi recusada pelo comitê gestor. Segundo Gabrielli, os três grupos de discussão das relações entre Brasil e Bolívia - de produção, refino e condições regulatórias - não se reúnem desde junho.

A GasLocal, empresa constituída pela Petrobrás e pela White Martins para transportar e vender o GNL produzido na primeira unidade de liquefação de gás natural do País, já firmou contratos de fornecimento com as concessionárias Gasmig (MG), Goiasgás (GO) e CEBgás (DF).

A unidade, que inclui a planta de liquefação, recebeu investimentos de US$ 50 milhões e iniciou a fase operacional há duas semanas. Ela é operada pela White Martins a partir do gás boliviano entregue pela Petrobrás. O gás é transformado em líquido e transportado em caminhões até os clientes, onde é regaseificado.