Título: Líbano já tem 500 mil refugiados
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Internacional, p. A11

A situação humanitária no Líbano é catastrófica e já levou cerca de 500 mil pessoas a buscar refúgio em outras regiões ou fugir para o exterior por causa dos ataques israelenses, informou ontem o representante em Beirute da Unicef (Fundo da ONU para a Infância), Roberto Laurenti. Isto significa quase um sexto dos 3,5 milhões de habitantes do país. O fluxo de refugiados aumenta enquanto Israel prossegue com sua campanha de bombardeios que já causou a morte de 239 libaneses, na grande maioria civis, e o Hezbollah continua atacando o norte israelense, onde já morreram 25 pessoas (ler mais abaixo).

Nenhum dos lados parece abdicar de suas exigências e o Exército israelense não afasta a possibilidade de lançar uma ofensiva terrestre no Líbano. Um general indicou que a operação militar "pode levar semanas".

Entre os milhares de pessoas que deixam o território libanês por terra está um grande número de trabalhadores sírios. A estimativa é que mais de 30 mil libaneses e 70 mil pessoas de outras nacionalidades cruzaram a fronteira síria desde o início dos bombardeios há uma semana. Os EUA enviaram nove navios de guerra ao Líbano para retirar cerca de 25 mil americanos e o Canadá mandou seis embarcações para buscar 25 mil canadenses-libaneses. O Brasil também está retirando seus cidadãos (ler na página 14).

Uma equipe da ONU, formada por 11 pessoas, foi para Damasco e depois seguirá para o Líbano, levando tendas e cobertores para cerca de 10 mil famílias abrigadas em edifícios públicos e outros locais improvisados. Ao mesmo tempo, a ONU está avaliando quantos de seus 400 funcionários permanentes no Líbano.

Ontem o governo americano informou que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, vai reunir-se amanhã em Nova York com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, par discutir a crise, mas uma decisão sobre uma possível viagem dela à região não foi tomada. Pouco antes, o embaixador israelense na ONU, Dan Gillerman, declarara que ela iria sexta-feira ao Oriente Médio.

A ONU tenta mediar o fim das hostilidades e, com o apoio do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, propôs o envio de uma força internacional para o sul do Líbano. Os EUA, porém, defendem a posição de Israel e não pediram um cessar-fogo. A viagem de Condoleezza seria o primeiro envolvimento direto dos EUA nos esforços diplomáticos para pôr fim a uma semana de confronto.

Ontem o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse a uma delegação especial da ONU que seu país continuará com os bombardeios no Líbano até que o Hezbollah liberte os dois soldados capturados no dia 12 e pare de lançar foguetes contra o país - fatos que desencadearam os ataques israelenses.

Olmert acusou o Hezbollah de ter coordenado suas ações com o Irã enquanto o presidente americano, George W. Bush disse que aparentemente a Síria tenta voltar a dominar o Líbano, um ano depois de ter tirado suas tropas do país, encerrando 28 anos de ocupação. AP, REUTERS, EFE E AFP

Hezbollah patrulha sul libanês Desde o fim da guerra civil libanesa (1975-1990) o grupo xiita Hezbollah patrulha o sul do Líbano, região sobre a qual o Exército nacional não tem nenhum controle. Israel se envolveu na guerra em 1978 e recuou anos mais tarde suas tropas para uma "zona de segurança" na região sul, de onde se retirou em maio de 2000, depois de anos de confrontos com a milícia do Hezbollah. Após a saída do Exército israelense a região permanecia relativamente tranqüila. O grupo só vinha atacando a área de Fazendas de Shebaa, que a Síria diz ter cedido ao Líbano, mas Israel alega que faz parte das colinas sírias do Golan, ocupadas pelos israelenses em 1967. Na semana passada, o Hezbollah rompeu esse frágil equilíbrio invadindo Israel e capturando dois soldados, numa ação aparentemente coordenada com o grupo palestino Hamas. Duas semanas antes o Hamas capturou um soldado israelense.