Título: 'Apoio pode acabar em uma semana'
Autor: Daniela Kresch
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Internacional, p. A12
A opinião pública israelense dá apoio total à ação militar no Líbano. Mas isso pode mudar, diz o ex-porta-voz do Exército israelense Nachman Shai, que se transformou na figura pública mais respeitada do país na Guerra do Golfo, em 1991, quando ficou conhecido por dar instruções aos cidadãos sobre como se defender dos mísseis Scud de Saddam Hussein. Para Shai, hoje estabelecido como escritor e analista político, os israelenses podem começar a mudar de posição a qualquer momento. É só o número de vítimas civis triplicar, ou os bombardeios do Hezbollah ao norte de Israel se estenderem por mais de uma semana.
No momento, há um amplo consenso em Israel quanto à operação no Líbano. Algo pode abalá-lo?
Talvez uma grande tragédia, com muitos mortos. Ou que essa guerra dure muito tempo.
Quanto tempo?
Uma semana. Não mais do que isso. As pessoas não podem se refugiar em abrigos antiaéreos por muito mais tempo. No começo há motivação para isso, o que é natural. Mas o tempo tem um papel muito importante no nível de apoio popular à operação militar.
O Exército e o governo israelenses levam isso em consideração quando planejam seus passos?
Claro. No momento, as pesquisas de opinião dão resultados positivos para o governo. Mas a paciência pode acabar. O público dá muito apoio ao governo, mas também tem muitas expectativas. Espera que em dois ou três dias acabe com a ameaça de bombas no norte e a vida volte ao normal. Só os mais realistas sabem que isso é irreal. É impossível aniquilar a ideologia anti-Israel, anti-sionista e anti-Ocidente do Hezbollah através de ataques aéreos. Não funciona assim. Podemos atingir fortemente a infra-estrutura do Hezbollah. Podemos matar seus comandantes e infligir tal dano que eles fiquem incapazes de agir por alguns anos. Mas dizer que não haverá mais Hezbollah? Não.
Entre os políticos, há vozes contrárias ao consenso? Há quem diga, por exemplo, que os ataques israelenses ao Líbano são exagerados?
Já comecei a ouvir esse tipo de alegação. Principalmente de parlamentares do Meretz (partido de esquerda) e dos partidos árabes. Mas é preciso que se entenda: passamos por um momento de choque. Todos os sistemas, incluindo o político, estão paralisados. Vai demorar algum tempo até que políticos, militares, ONGs e outros voltem a funcionar como antes.
A maioria dos israelenses acredita que o mundo apóie a operação no Líbano. Mas a imprensa internacional critica a força dos ataques.
O mundo é muito grande, tem 192 países. Nunca poderemos saber o que todo o mundo pensa. Cada país pensa uma coisa. O G-8 divulgou um comunicado em que apóia, mesmo parcialmente, a ação israelense no Líbano. Os Estados Unidos obviamente apóiam. E isso é o que importa no momento, apesar de que adoraríamos que outros países também entendessem o conflito como uma luta contra o terrorismo mundial.
O público israelense se importa com o que o mundo diz?
A maioria dos israelenses só pensa numa coisa no momento: na segurança das famílias e do lar nacional. O público está menos interessado no que falam de Israel no Brasil.
Quando o público sair do choque e da paralisia e começarem as críticas, o primeiro-ministro Ehud Olmert pode sair enfraquecido?
Pode ser. Mas se sairmos vitoriosos, sua popularidade alcançará as estrelas.