Título: Andreas desmente todo mundo e acusa Suzane de chantagem
Autor: Laura Diniz, Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Metrópole, p. C1
A grande vítima do assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen falou ontem em público pela primeira vez. Ao depor tranqüila e articuladamente, Andreas von Richthofen desmentiu o que disseram anteontem sua irmã, Suzane, e os irmãos Daniel e Christian Cravinhos. O rapaz contou que a jovem fez "chantagem emocional" com ele e negou ser dono da arma achada num ursinho, como ela alegou. A pedido da Promotoria, que contou "14 ou 15" contradições entre os réus, o juiz Alberto Anderson Filho decidiu que Suzane e Daniel, que evitam se olhar no plenário, terão de passar por acareação.
Em três horas de depoimento, o rapaz de 19 anos, que insinuou não perdoar Suzane, mostrou-se calmo, mesmo quando o advogado da irmã, Mauro Otávio Nacif, tentou deixá-lo em maus lençóis. Antes de falar, ele pediu que Suzane e os Cravinhos saíssem do plenário.
Ao exibir uma petição de Suzane para ser a inventariante dos bens dos pais, o promotor Roberto Tardelli pediu a Andreas que falasse sobre o bilhete que escreveu para a irmã, logo após o crime. O menino dizia ter saudades da jovem, alegava que não a via sempre porque o tio Miguel Abdalla proibia e que era contra o processo de exclusão de herança contra ela.
"Escrevi esse bilhete meio que forçado", revelou Andreas, hoje estudante de Farmácia. "Quem ditou o bilhete foi a minha irmã, fazendo chantagem emocional. Na época, eu não sabia o que sentia por ela."
Quando Nacif quis saber que coação Suzane teria feito, ele respondeu. "Ela disse que meu tio e a doutora Cida (Maria Aparecida Cardoso, sua advogada) queriam que ela apodrecesse na cadeia para não ter dinheiro para pagar os senhores."
Segundo o rapaz, as "fichas" sobre o crime caíram "lentamente". "Ainda está difícil de aceitar uma atitude dessa." Andreas não crê que Suzane não tenha interesse no patrimônio - ontem, Nacif afirmou que Suzane gostaria de ser ouvida de novo para dizer que abriria mão da herança, o que só teria valor por escrito, e na área cível.
Andreas desmentiu Suzane ao negar ser o dono da pistola achada no ursinho da jovem. Ele disse que, depois de presa, Suzane lhe pediu para dar sumiço na arma. O rapaz enterrou a pistola no quintal, mais tarde achada pelo tio e levada ao Ministério Público.
O jovem contestou o que Daniel dissera anteontem. Negou que ele ou a irmã tenham sofrido abuso sexual. Nacif pediu ao juiz que perguntasse se Manfred seria capaz de fazer mal aos filhos. "Não. Ele era mais digno que muita gente aqui."
Andreas contou que foi Daniel quem levou Suzane a fumar maconha e que experimentou a droga com o ex-cunhado. Disse ter sentido receio ao ver a irmã rondando sua casa, apesar de ela nunca ter feito ameaças. Perguntado se permitiria que ela entrasse, disse: "Complicado. Não deixaria, não."
Para Tardelli, Andreas é "um menino de ouro", enquanto Suzane o deixou estarrecido com o "relato extremamente frio" sobre o caso. Os advogados da jovem alegam que o rapaz "tinha nítida intenção de prejudicar Suzane".
"Quando disse não confiar na irmã e não saber se ela era ou não psicopata, o Andreas a prejudicou", disse Nacif. "Mas vou explicar que ele tem direito de sentir raiva." Nacif disse que Suzane passou uma noite "difícil" no 89º DP (Portal do Morumbi). Ela chegou lá perto de 0h40 e voltou ao fórum às 7h40. Ficou em uma cela com quatro mulheres, presas por envolvimento com drogas.