Título: Para delegada, é impossível Daniel ter matado casal sozinho
Autor: Roberta Pennafort, Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Metrópole, p. C3

Ouvida ontem no 1º Tribunal do Júri, a delegada Cíntia Tucunduva Gomes, que investigou o caso Richthofen, disse que não há possibilidade de Daniel Cravinhos ter matado o casal Manfred e Marísia sozinho - como ele alegou anteontem. "A brutalidade não permitia que Manfred fosse morto sem que Marísia acordasse. Nunca tinha visto nada igual e, hoje, ainda trabalhando com homicídios, continuo sem ter visto nada igual."

Arrolada pelo Ministério Público, como Cíntia, a perita criminal Jane Marisa Belucci não hesitou: "Não foi uma pessoa só de jeito nenhum. Seria impossível alguém bater no Manfred, esticar o braço ou dar a volta na cama e bater na Marísia".

Jane foi responsável pela perícia no local do crime. Chocou a platéia ontem, ao comentar as fotos dos corpos das vítimas. Mas não despertou a curiosidade dos réus, que não olharam as imagens nos telões.

Rico em detalhes, o depoimento de Cíntia mostrou que Suzane só revelava emoção nas "cenas românticas" com Daniel. "Eles estavam apaixonados e até felizes." Ela não reagiu nem ao ver as fotos dos pais com os rostos desfigurados. A frieza era tanta que Suzane se preocupou com a aparência ao ser fotografada na delegacia. "Ela ajeitou o cabelo e perguntou ao Daniel: 'Estou bem?'"

Cíntia disse, porém, que Daniel ficou transtornado, especialmente na reconstituição do crime. O momento mais tenso foi o da simulação dos golpes em Manfred. "Depois de mostrar o que havia feito, ele tremeu tanto, passou tão mal, que a gente teve de levá-lo ao banheiro."

A delegada contou que foi à casa dos Richthofen no dia seguinte ao enterro das vítimas e viu Suzane de biquíni, na piscina. A jovem, que ouvia tudo imóvel, balançou a cabeça. Cíntia desmontou o perfil de garotinha ingênua defendido pela defesa. "Ela queria dominar a situação."

Na seqüência, foi ouvido o PM Alexandre Boto, o primeiro a chegar ao local do crime. Ele estranhou a reação de surpresa de Suzane, quando ela perguntou sobre os pais e ele disse que estavam bem. Boto também achou esquisito o comportamento dela e do irmão, pois nenhum chorou ao saber da verdade.

Também testemunharam ontem Fábio Oliveira, diretor da penitenciária onde os Cravinhos ficaram presos, em Iperó, a corretora Ivone Muss Wagner, conhecida dos Richthofen, e o oficial de Justiça Hélio Bulcão, pai da namorada de Christian na época do crime.