Título: Para BC, o que encarece é o risco
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Economia, p. B1

O Banco Central divulgou ontem um estudo detalhado da estrutura de custos das instituições financeiras no qual comprova que os bancos que têm custos administrativos elevados e operam com larga margem de risco cobram spreads mais altos de seus clientes. O spread é a diferença entre a taxa de juros final ao consumidor e a taxa que a instituição paga para captar recursos. O estudo Fatores de Risco e o Spread Bancário no Brasil, elaborado por Fernando G. Bignotto e Eduardo Augusto de Souza Rodrigues, funcionários do Departamento de Estudos e Pesquisas do Banco Central, considera que parte dos custos administrativos é repassada para os tomadores de empréstimos.

Os economistas analisaram a formação das taxas de spread com base em dados de 87 bancos comerciais e múltiplos, de 2001 a 2004. O estudo não qualifica as instituições e tampouco sugere hipóteses para a possibilidade de redução do spread bancário, como deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Bignotto e Rodrigues relacionam como fator determinante para o aumento no custo do crédito o risco do conjunto dos empréstimos realizados pelas instituições. Segundo eles, quanto maior o risco de inadimplência da carteira do banco maiores são os spreads. O risco dos bancos envolvendo a variação da taxa de juros básica, a Selic, também influencia as taxas cobradas dos consumidores. Ou seja, cobram mais caro bancos que acumulariam prejuízo na hipótese de o governo promover ¿um choque na taxa de juros¿.

Os cálculos realizados pelos autores mostraram um aspecto não esperado: a maior participação no mercado não faz os bancos cobrarem mais caro seus financiamentos. ¿O fato de bancos que possuem uma carteira de crédito grande cobrarem um diferencial de taxas menor pode ser reflexo de ganhos de escala, possibilidade que não está considerada no modelo teórico¿, explicam. Por outro lado, o tamanho do banco como um todo, de acordo com trabalho, eleva os spreads, confirmando a hipótese de que as instituições com maior poder tendem a encarecer o crédito.

Outro dado curioso é que os bancos que cobram mais pelos serviços também tornam mais caras as operações de crédito. Ou seja, banco caro em tarifas é caro também no crédito. E mais uma surpresa do estudo é a baixa relação atribuída à tributação no custo do crédito. ¿Os bancos não parecem repassar significativamente suas despesas tributárias ao spread.¿