Título: Empresas banem transgênicos
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2006, Negócios, p. B16

Com receio de sanções dos importadores e de perder espaço no mercado interno, 13 empresas assumiram o compromisso de não trabalhar com produtos transgênicos. Essas companhias fazem parte de um relatório divulgado ontem pela ONG Greenpeace em parceria com o Instituto Ethos e a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec).

O estudo mapeou algumas das principais empresas do setor de alimentos do País - Batavo, Unilever, Sadia, Perdigão, Brejeiro, Caramuru, Imcopa, Ferrero, Josapar e Sakura - e do varejo (Carrefour, Pão de Açúcar e Sonae) e os impactos dessa decisão nos negócios das companhias.

Apesar dos custos adicionais que a decisão traz - como certificações de procedência e auditorias em fornecedores - a não adoção de trangênicos pode oferecer ganhos de imagem para as empresas. As companhias não querem ver seus produtos e marcas associados a matérias-primas geneticamente modificadas, que provocam muita polêmica.

A goiana Caramuru Alimentos, uma das maiores processadoras de grãos de soja do País, decidiu não usar transgênicos em 2000 por solicitação dos importadores. A empresa faturou R$ 1,5 bilhão em 2005 e esmaga 1,2 milhão de toneladas de soja por ano, que segue para países europeus, como Alemanha, Inglaterra, Itália e escandinavos. Também é uma das maiores fornecedoras para a Europa de lecitina de soja, usada na fabricação de produtos alimentícios- a empresa sozinha detém 7% do mercado europeu.

"Entendemos que a opção por não transgênicos significava uma oportunidade de atender a um mercado diferenciado", explica César Borges Souza, vice-presidente da Caramuru Alimentos.

O mesmo caminho foi feito pela processadora de grãos Imcopa, do Paraná, que produz derivados de soja como farelo, óleo e lecitina. A empresa fez a opção de não usar transgênicos em 1998 e investiu US$ 1,2 milhão em um programa interno para assegurar que a soja comprada pela empresa não é de origem transgênica.

O programa mobilizou cooperativas de fornecedores e foi preciso investir para conseguir as certificações que não havia uso de transgênicos. "Sabemos que esse investimento é recuperado na forma de prêmio pago pelos importadores pela soja não trangênica", afirma Luiz Regi, gerente de Qualidade da Imcopa. Na ponta do lápis, esse prêmio pode chegar a US$ 15 por tonelada de soja processada.

Em sete anos, o volume de soja processada pela Imcopa saltou de 250 mil toneladas por ano para 2,6 milhões de toneladas/ano, o que fez a empresa conquistar uma clientela de mais de 500 empresas, entre elas gigantes como Nestlé, Kraft Foods e Unilever. Exporta 98% de sua produção e, no ano passado, conquistou o mercado japonês, para quem vendeu 200 mil toneladas de soja processada.

No varejo, o Carrefour também aboliu o uso de matéria-prima transgênica na fabricação dos produtos de sua marca própria, composta atualmente de 1,3 mil itens em alimentação. A sugestão veio da matriz francesa, que mantém a política nos 30 países em que está presente. Para isso, fiscaliza os fornecedores e descarta os que não estiverem em conformidade. ¿Como os efeitos do consumo de transgênicos para o consumidor ainda são pouco conhecidos, a empresa adota o princípio da precaução¿, diz Pablo Rego, gerente de Marcas Próprias do Carrefour.