Título: Renda sobe em ano de eleição, mas depois volta a cair
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Economia, p. B1

A renda mediana do trabalhador brasileiro cresce 12% em anos eleitorais, mas a alegria dura pouco e no ano seguinte a queda é de 11,9%. É o que mostra um levantamento do Centro de Políticas Sociais da FGV, com base no período de 1982 a 2002. "O problema é que depois da eleições vêm a conta e a ressaca", comentou o chefe do Centro da FGV, Marcelo Neri.

Segundo ele, o Brasil ainda é uma "democracia jovem", sujeita a "políticas oportunistas de aquecer a economia antes das eleições para gerar um resultado favorável". "Uma boa notícia é que isso tem se tornado menos forte nas últimas duas ou três eleições. Mas, nas eleições de 1982 e 1986 (para governador) e mesmo 1989 (para presidente), isso foi mais marcado", afirmou. O levantamento não inclui o ano de 1994, no qual não foi realizada a PNAD.

Levando em conta apenas as duas últimas eleições para presidente, o trabalho da FGV mostra que a renda do trabalhador "de todas as fontes" foi 4,3% maior do que em anos sem eleições. De forma geral, as rendas provenientes do trabalho principal foram 3,2% maiores, as de aposentadoria, 6,9%, e as de outras receitas (transferências, basicamente), 24% superiores.

Chama a atenção que nesse mesmo período a renda do grupo funcionalismo público tenha sido ainda superior. O levantamento mostra que os ganhos do funcionalismo municipal foi o maior (8,81%), seguido do estadual (8,08%) e federal (3,63%). Nesses casos, houve reajuste de salários, pois restrições legais impedem contratação em período eleitoral, a não ser na esfera municipal, onde foi detectado aumento de contratação.

Neri preferiu não fazer previsão para 2006, alegando que não há dados disponíveis que permitam análise. "É difícil tirar conclusões a partir de ilações. Mas os dados mostram que isso ocorreu nos últimos anos e a tendência é continuar. Acho que em 2006 há um efeito, por exemplo, do reajuste do mínimo, que segue de alguma forma o ciclo eleitoral. No entanto, a pobreza não caiu", observou o economista. N.B.J.