Título: Medida é elogiada por ex-diretor do BC
Autor: Adriana Fernandes e Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Economia, p. B4

O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Luiz Fernando Figueiredo, sócio-diretor da Mauá Investimentos, elogiou a mudança na estratégia de financiamento da dívida externa no biênio 2007-2008, conforme anunciou ontem o Tesouro Nacional. A partir de agora, o Tesouro não vai mais anunciar uma meta específica de captação em moeda estrangeira no mercado internacional.

"Eu acho que tem sentido. Na verdade, esse anúncio é conseqüência de um trabalho que tem sido feito pelo Tesouro e pelo Banco Central de maneira primorosa. Na verdade, o Brasil tinha uma dívida externa pública grande e um volume de rolagem bem razoável. O que aconteceu nos últimos anos foi limpeza de todo esse processo, diminuindo as amortizações anuais, melhorando muito nossa situação externa, a ponto de hoje nós termos mais ativos do que passivos em dólar", analisou o ex-diretor do BC em entrevista ao Broadcast Ao Vivo.

Segundo ele, o objetivo da mudança é melhorar o perfil da dívida externa brasileira. Ele lembrou que hoje o País já não tem mais a mesma necessidade de rolagem anual e que as emissões públicas devem diminuir por ser menor a necessidade.

Para Figueiredo, o anúncio reflete não só a preocupação de melhorar o perfil da dívida como de deixar o País numa posição mais segura para os investimentos estrangeiros. "Se olharmos países de grau de investimento, eles têm situação externa bastante melhor que o Brasil. Tem sido estratégia do Tesouro e do Banco Central caminhar nessa direção."

O ex-diretor do BC acredita que o Banco Central e Tesouro vão continuar a comprar o excedente de dólares no mercado e ressaltou que esse procedimento de comprar dólares visando também recompor as reservas do País tem sido bastante eficiente.

Figueiredo evitou dizer que nível seria ideal para o câmbio e lembrou que não necessariamente um nível bom para as exportações seja o ideal para a economia como um todo. "Às vezes, ajudar as exportações não quer dizer que você está ajudando o País."

Segundo ele, o comportamento do câmbio tem refletido o cenário internacional favorável, com forte crescimento mundial, em torno de 5%. "Provavelmente o ambiente externo não deva continuar com essa exuberância. Há sinais muito claros, principalmente da economia americana."

Para Figueiredo, o nível de acomodação do dólar vai depender das condições da economia global e do Brasil. "É difícil dizer até que ponto a taxa de câmbio pode ir." Em suas projeções, o dólar pode ficar mais perto de R$ 2,20 e de R$ 2,25, dadas as "condições econômicas de curto e de médio prazos".

Quando o assunto é crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), Figueiredo admite estar menos otimista que o governo e mais pessimista que o próprio mercado. "Na nossa visão, o Brasil continua crescendo, mas num ritmo bastante moderado e na margem a tendência é de certa desaceleração."

O governo espera que o PIB cresça mais que 4% este ano. Já o mercado projeta 3,53%, enquanto a Mauá Investimentos previa 3,5%. "Infelizmente reduzimos um pouco mais a nossa projeção para 3,3% (em 2006)", disse Figueiredo.

Quanto aos juros, o ex-diretor de Política Monetária do BC acredita que ainda há espaço para que eles continuem a cair, embora, a exemplo da maioria do mercado, espere uma redução no ritmo de cortes, de 0,50 para 0,25 ponto porcentual, na reunião da próxima semana ou na seguinte.

Ele foi mais crítico. porém, ao falar do spread bancário no Brasil. Na sua avaliação, o governo está na direção certa nas medidas que tem adotado para baixar o spread, mas ainda falta muito para mudar o mercado de crédito.