Título: Presidente exalta crescimento, Alckmin desdenha do índice
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Nacional, p. A6

Nos programas da propaganda eleitoral ontem, os dois principais adversários da eleição presidencial esgrimiram entre si, abordando os mesmos temas, embora um não soubesse antecipadamente o que o outro diria. O presidente Lula (PT) exaltou o crescimento obtido em seu governo; a seguir, Geraldo Alckmin (PSDB) lembrou que o Brasil cresceu "apenas" 2% em 2005, enquanto a Argentina cresceu 9% e Chile, Uruguai e Peru cresceram 6%.

O programa de Lula celebrou a recuperação de 9 mil quilômetros de estradas federais deterioradas, obras que Alckmin menosprezou como "tapa-buracos". Para rivalizar com o programa de Alckmin - que sempre menciona a construção de 19 hospitais em São Paulo -, o programa de Lula disse que o governo petista "ampliou ou modernizou" 19 aeroportos. Lula apropriou a pedra angular do discurso de Alckmin e ontem definiu que o Brasil precisa "melhorar o seu gasto".

A abertura do programa tucano mostrou um trabalhador de macacão afirmando que sempre apoiou Lula, mas recentemente se decepcionou com o seu governo: "Ele era a luz no fim do túnel. Mas a luz apagou de uma hora para a outra", queixou-se. Os tucanos mostraram muitos nordestinos em São Paulo, dizendo que conseguiram emprego nas obras realizadas por Alckmin, numa mensagem aos conterrâneos que ficaram em sua terra.

AJUDA E EMPREGO Lula afirmou ainda que o seu governo "melhorou a vida dos brasileiros": "Mudamos a economia e implantamos um novo modelo". O candidato à reeleição não detalhou, no entanto, os parâmetros que justificam e sustentam essas "mudanças" na política econômica. Ele afirmou que a médio prazo o Brasil tem todas as condições de se transformar numa potência e "ultrapassar o PIB de países europeus importantes".

O presidente deu um novo conceito ao programa Bolsa-Família para "vaciná-lo" contra a proposta que Alckmin tem apresentado. À tarde o presidente disse que o programa possibilita que pessoas das famílias beneficiadas consigam um emprego, embora não explicasse a relação de causa e efeito entre uma coisa e outra. À noite, disse que o Bolsa-Família precisa de aperfeiçoamentos e que um deles é "programar uma porta de saída".

O tucano usou a mesma expressão - "porta de saída" - para propor que os programas sociais do governo tenham uma "porta de entrada" (a inclusão de pessoas necessitadas) e uma "porta de saída" (a possibilidade de gerar empregos para os segmentos pobres atendidos).

O programa de Lula apresentado ontem à noite mostrou uma passagem de comício em que o presidente afirmou que "os candidatos chiques dizem que o Bolsa-Família é uma esmola". E ele mesmo respondeu que não. O Bolsa-Família, disse o programa, tem dois fatores positivos - põe comida na mesa do pobre e aumenta o dinheiro em circulação nos municípios.

A propaganda de Alckmin continua repisando diariamente a sua biografia, para vencer o desafio do desconhecimento do candidato. E lembra, a todo momento, que o tucano é médico, uma profissão que suscita a confiança natural das pessoas e que propõe uma identificação direta e nostálgica com o último médico que chegou à Presidência da República no Brasil - Juscelino Kubitschek (que ele homenageou ontem em Volta Redonda). Para compensar, Lula disse que governar o Brasil "é um pouco de cabeça, um pouco de coração".