Título: Lula erra na TV: inflação de seu governo não é a menor
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Nacional, p. A6

O programa de televisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, errou ontem ao afirmar que o governo petista conseguiu "a inflação mais baixa dos últimos dez anos", provavelmente se referindo ao índice de 5,69%, em 2005, o menor do atual governo. Este, na verdade, é o terceiro índice mais baixo dos últimos dez anos; a mais baixa do decênio ocorreu no primeiro governo do seu arqui-rival Fernando Henrique Cardoso, em 1998, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 1,65%.

No programa de rádio de ontem houve outro erro, cometido pelo próprio Lula. Ele afirmou que o preço do saco de cimento era de R$ 13,00 quando foi empossado e que hoje "quem procurar" encontra o saco de cimento a R$ 10,00. O índice CUB (Custo Unitário Básico), do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon) - que mede o preço médio entre o atacado e o varejo -, realmente registrava o preço médio de R$ 13,00 em janeiro de 2003.

Mas, no mês passado, o índice CUB apontou um preço médio de R$ 11,44, e não de R$ 10,00. O valor de R$ 11,44 é eqüidistante entre os R$ 13,00 à época da posse de Lula, três anos e meio atrás, e os R$ 10,00 que ele alardeou ontem. Esse índice, no entanto, não espelha o preço real do comércio varejista, mas a média de atacado e varejo.

BEM ACIMA Ontem o Estado checou o preço do cimento na Grande São Paulo e coletou valores que oscilam entre um mínimo de R$ 11,50 (na rede Center Castilho) e um máximo de R$ 14,40 (na loja Revican, em Santa Cecília). A evolução do preço do cimento em 2006, aliás, não aconselha a citação de Lula: no ano, o produto já subiu 2,97%, bem mais que a inflação acumulada do ano, que está em 1,73%.

Nos últimos 12 meses o preço do saco de cimento, segundo o CUB/Sinduscon, baixou 14,31%, um índice que reforça a argumentação de Lula. Mas em janeiro de 2006 o porcentual que mensurava a queda do preço era bem maior - 36,1% -, o que mostra que a tendência de queda se reduziu no correr de 2006.

Lula se gabou, também, do preço do arroz, que está, segundo ele, por R$ 5,90 o quilo. O Estado encontrou uma única marca de arroz abaixo disso (a R$ 5,39) no Carrefour, mas o produto é de qualidade bem abaixo do sofrível.