Título: Países corruptos ficarão sem recursos do Bird
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Nacional, p. A12

A despeito da gravidade das alegações de corrupção que dominaram a política brasileira nos últimos meses, em nenhum momento elas foram mencionadas nas discussões da diretoria executiva do Banco Mundial (Bird) sobre a política mais vigorosa de promoção da governabilidade e combate à corrupção que o banco deve aprovar em sua próxima reunião anual, no mês que vem, em Cingapura - com apoio do governo brasileiro.

Em abril, no discurso que fez no Comitê de Desenvolvimento do Bird, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aplaudiu a iniciativa, mas advertiu contra considerar "a falta de governabilidade como sinônimo" de corrupção. "A corrupção atrasa o desenvolvimento não apenas porque desvia recursos, mas porque sinaliza falhas de governabilidade. Se por um lado a corrupção deve ser combatida por todos os meios, indicamos que o foco na corrupção estreita de forma excessiva a discussão sobre governabilidade", disse.

Segundo fontes bem informadas, uma razão para o aparente desinteresse do Bird nos mensaleiros e sanguessugas é que não há suspeita de uso fraudulento ou desvio dos créditos que o banco concedeu ao Brasil nos últimos anos. Outra é que a preocupação do Bird com a governabilidade e a corrupção, que surgiu nos dez anos da gestão de James Wolfensohn e ganhou mais visibilidade depois que Paul Wolfowitz assumiu o comando, no ano passado, deriva de casos concretos de maracutaias com empréstimos do banco em vários países da África e da Ásia.

A ofensiva do banco contra a corrupção e em prol da governabilidade já levou ao aumento considerável do staff do departamento que Wolfensohn criou para cuidar do assunto. A nova estratégia prevê mesmo algumas ações preventivas, que permitam ao banco sustar a concessão de créditos caso os governos beneficiados resistam a adotar planos nacionais monitoráveis de combate à corrupção.

Mas o documento que irá à reunião anual não terá uma sugestão de critério objetivo mensurável de corrupção. Uma tentativa do Bird de criá-lo, agregando vários índices, como o da Transparência Internacional, não deu resultado satisfatório e, por isso, o texto não propõe nenhum corruptômetro.