Título: Irã propõe 'negociações sérias'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Internacional, p. A13

O Irã anunciou ontem que está pronto para "negociações sérias" sobre seu programa nuclear, mas a agência de notícias pró-governo Fars, antecipou que o regime iraniano não está disposto a abandonar seu programa de enriquecimento de urânio - exigência-chave dos EUA para evitar que o país seja submetido a sanções econômicas e políticas. Ali Larijani, representante do Irã nas negociações, enviou por escrito uma mensagem aos embaixadores da Grã-Bretanha, China, França, Rússia, Alemanha e Suíça. A carta é uma resposta à oferta de um pacote de incentivos para que os iranianos abandonem seu programa nuclear.

Larijani se recusou a informar se a resposta do Irã incluía a aceitação da suspensão do programa de enriquecimento de urânio. Os governos destinatários da mensagem também mantiveram sob sigilo seu conteúdo. A TV estatal do país citou apenas uma frase de Larijani, na qual ele dizia que o Irã está preparado para "entrar em negociações sérias a partir de 23 de agosto (hoje)" com os países que ofereceram o pacote de icentivos. A agência Fars, no entanto, informou que o governo não suspenderá as atividades nucleares e "oferecerá uma nova fórmula para resolver a questão por meio do diálogo".

Na segunda-feira, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse que o país tomará "sua própria decisão sobre o caso nuclear e, com paciência e força, seguirá seu caminho".

O Irã enviou sua resposta aos países europeus nove dias antes do fim do prazo estabelecido pelo Conselho de Segurança da ONU para que paralise seu programa nuclear. Caso se recuse a acatar a resolução do conselho, o país se expõe a sanções da comunidade internacional.

"Apesar de não haver justificativa para a medida ilegal das outras partes de enviar o caso para o Conselho de Segurança, nossa resposta foi preparada e enviada para facilitar o caminho na direção de negociações justas", declarou Larijani.

O Irã, quarto maior exportador de petróleo do mundo, tem assinalado que não abrirá mão do que considera seu direito de enriquecer urânio para utilizá-lo em usinas de energia atômica. Mas países ocidentais temem que o programa tenha como objetivo a obtenção da tecnologia para a construção de armas atômicas. Entre os incentivos oferecidos ao Irã para que abandone o programa nuclear, a Rússia se dispõe a fornecer combustível nuclear produzido em território russo para as usinas iranianas.

REAÇÃO O governo dos EUA não fez comentários imediatos sobre a proposta iraniana. Mas o embaixador americano na ONU, John Bolton, disse que, se o Irã continuar se recusando a suspender o enriquecimento de urânio, os EUA apresentarão ao Conselho de Segurança um projeto de resolução pedindo sanções econômicas contra o país.

Já o governo chinês informou estar estudando a proposta iraniana e pediu que o Irã "leve em conta as preocupações da comunidade internacional e dê os passos construtivos necessários"para o fim da crise. "Também esperamos que as outras partes mantenham-se pacientes e calmas", acrescentou o governo num comunicado.