Título: Federação israelita pede inquérito contra Sintusp
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Internacional, p. A14
Um estilhaço do conflito entre Israel e o Hezbollah veio parar no câmpus da Universidade de São Paulo. Ontem a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) informou ter pedido à Procuradoria-Geral de Justiça do Estado a instauração de inquérito policial contra o Sindicato dos Trabalhadores da USP, o Sintusp, "para apuração de atos discriminatórios e preconceituosos contra a comunidade judaica", que a entidade representa.
Tudo começou com um panfleto do Sintusp, durante o pico da guerra, convocando um ato público "contra o massacre no Líbano e na Palestina" no anfiteatro da USP. A reitoria diz ter cedido o espaço para um debate sobre o conflito, no dia 9. Pouco antes, porém, cancelou a permissão de uso do auditório, por constatar que se tratava de ato contra a existência de Israel. Em protesto, o Sintusp distribuiu um boletim intitulado "As Bombas de Israel atingem a democracia da USP". "A diretoria mostrou-se subserviente às 'poderosas' forças dos imperialistas e genocidas judeus", dizia o texto, que defendia o fim do Estado de Israel. Nesse boletim, do dia 11, o Sintusp convocou o debate "O Massacre de Israel sobre o Líbano e à Palestina (sic)", para esta sexta-feira, desta vez na sede da entidade, no câmpus.
Foi por causa do folheto que a Fisesp marcou uma audiência com o procurador-geral, Rodrigo César Rebello Pinho, para pedir o inquérito policial, citando a referência "às poderosas forças dos imperialistas e genocidas judeus". "Também é absurdo pedirem o fim de um país", diz o diretor-jurídico da Fisesp, Octávio Aronis. "Mas entendemos que nesse caso cabe à Embaixada de Israel se pronunciar." Um diretor do Sintusp, Magno de Carvalho, confirma que a entidade defende o fim de Israel, mas diz que sua maior preocupação, no momento, é com o debate. A polêmica promete lotar o pequeno salão do Sintusp. "Temos umas 70 cadeiras e vamos ter de alugar mais umas 200." Da lista de debatedores constam a Confederação Árabe Palestina do Brasil, a Fisesp, o militante socialista de origem judaica Valdo Mermelstein, o Sintusp e a União da Juventude Árabe para a América Latina, "que defende a resistência no Líbano". Seria representante do Hezbollah? "Não. Eles só vendem camisetas e bandeiras do grupo", diz Magno. O 'Estado', então, assinalou que a Fisesp garante não ter sido convidada. "Enviamos um e-mail para o site deles. Não responderam e não temos o telefone deles." Mais tarde, ele afirmou ter feito o contato com a Fisesp e disse que aguardava resposta. Um advogado aconselhou o sindicato, segundo Magno, a processar a Fisesp por atentado contra o direito de expressão. "Só na semana que vem decidiremos o que fazer."
A reitoria da USP informou que não interferirá com o debate. "Do mesmo modo que a USP cancelou o uso do anfiteatro para um ato público contra a existência do Estado de Israel, um Estado soberano, porque não se tratava de um debate, a USP agora entende que o Sintusp tem autonomia para expressar livremente sua opinião. Mas o Sintusp não fala em nome da universidade", destacou a assessoria de imprensa.