Título: Força de paz não buscará armas do Hezbollah
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2006, Internacional, p. A14
A força de paz da ONU no Líbano, Finul, terá o direito de abrir fogo para se defender e proteger civis, mas não participará de buscas de armas do Hezbollah, indicou um relatório da França cujos pontos principais foram divulgados ontem pelo jornal Le Monde. O diário disse ter obtido cópia do documento de 21 páginas descrevendo regras provisórias para o engajamento da força, recentemente fortalecida pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que impôs o cessar-fogo. O documento, que ainda não foi aprovado, estava carimbado "Restrito à ONU", disse o jornal. Funcionários dos Ministérios do Exterior e da Defesa não quiseram falar sobre o relatório.
Enquanto a ONU tenta obter mais soldados para aumentar a força dos atuais 2 mil para 15 mil, muitos países europeus evitam se comprometer com o envio de soldados sem o estabelecimento de regras mais explícitas de engajamento. Chanceleres da União Européia se reunirão sexta-feira em Bruxelas a pedido da Itália para discutir a contribuição para a força de paz. O documento citado pelo Le Monde aparentemente não satisfez aos países europeus quando distribuído sexta-feira aos possíveis participantes da Finul, diz o jornal.
Sob os termos que estão sendo discutidos, as forças de paz atuariam defensivamente, mas poderiam "usar a força apropriada e justificável ... se necessário", disse o Le Monde. O contingente estaria autorizado a impedir atividades hostis na zona-tampão no sul do Líbano, atuar contra qualquer um que o impeça de levar sua missão adiante e "proteger os civis da ameaça de violência física".
Outro documento obtido pelo Le Monde indica que o Exército libanês, que atuará com a força de paz, deve assumir o controle da zona-tampão e a responsabilidade pelo desarmamento do Hezbollah.
O chanceler italiano, Massimo D'Alema, enviará duas delegações ao Líbano hoje, uma para revisar as condições para o envio da força de paz e uma segunda para discutir a questão de reconstrução do país.
O primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, anunciou na segunda-feira que a Itália está preparada para liderar a força de paz e pretende contribuir com 3 mil soldados. Mas a Itália insiste em um mandato claro e, como outros europeus, na necessidade de garantias de que seus soldados não serão apanhados no fogo cruzado entre Israel e o Hezbollah. A França, antiga potência colonial do Líbano, comanda atualmente os 2 mil soldados da Finul. Ela desapontou a ONU e outros países ao prometer apenas dobrar seu atual contingente de 200 soldados.
A contribuição européia é considerada vital para a ONU formar um primeiro contingente de 3.500 homens que será enviado até o dia 2. Espanha, Bélgica e Holanda também devem contribuir para a força de paz. Malásia e Indonésia insistiram ontem em seu direito de enviar soldados para a Finul. Israel rejeitou a participação de soldados de nações muçulmanas que não o reconhecem.
O presidente da Síria, Bashar Assad, manifestou ontem sua oposição ao envio de uma força internacional à fronteira sírio-libanesa, considerando-o um ato hostil a seu país.
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, condicionou ontem o levantamento do bloqueio marítimo e aéreo imposto ao Líbano ao envio de uma força de paz à fronteira sírio-libanesa e ao aeroporto de Beirute, a fim de impedir a transferência de armas da Síria para o Hezbollah. Olmert apresentou sua exigência durante encontro com o enviado da ONU Terje Roed-Larsen, que está na região para discutir a aplicação do cessar-fogo que encerrou 34 dias de combates entre Israel e o Hezbollah. A guerra começou em 12 de julho, depois que o Hezbollah capturou dois soldados israelenses e matou três.
Em Londres, a Anistia Internacional publicou relatório afirmando haver "claros indícios" de que Israel levou a cabo uma "destruição deliberada" da infra-estrutura civil libanesa e pode, assim, ter cometido "crimes de guerra". A Anistia pediu uma investigação "urgente e exaustiva" da ONU sobre as ações do Hezbollah e de Israel.