Título: PF prende quadrilha de doleiros que tinha esquema em 3 Estados
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2006, Economia, p. B9
A Polícia Federal prendeu ontem 35 doleiros e intermediários que atuavam no mercado de câmbio ilegal em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Outros 14 mandados de prisão temporária foram expedidos e os doleiros estão sendo procurados pela polícia.
Entre os intermediários presos está um "alto funcionário" da Câmara de Comércio de Desenvolvimento Internacional Brasil-China, que servia como elo entre comerciantes e doleiros. Três dos detidos trabalharam com Toninho da Barcelona, doleiro descoberto pela CPI do Banestado.
Os acusados comandavam negócios independentes, de pequeno e médio porte, mas mantinham contatos entre si e realizavam com freqüência operações conjuntas. Boa parte dos clientes era formada por empresas de comércio exterior que realizavam operações subfaturadas.
O centro do esquema era uma casa de câmbio e turismo cujo nome não foi revelado. A casa tem autorização do Banco Central para realizar operações de câmbio, mas operava bem acima do limite permitido e, portanto, sem comprovação de origem de recursos. A casa de câmbio continua funcionando. "O fechamento depende de autorização do Banco Central", disse o delegado Ricardo Saadi, coordenador da chamada Operação Tigre em São Paulo.
Os doleiros realizavam tanto operações de câmbio manual quanto transferências internacionais por meio de uma modalidade conhecida como "dólar-cabo", na qual o dinheiro não sai do País. "O doleiro mantém contas e redes de contatos no Brasil e no exterior e faz uma compensação paralela sem precisar transferir fisicamente o dinheiro", explicou Saadi.
Resultado de seis meses de investigação, a Operação Tigre envolveu 400 policiais federais, dos quais 300 no Estado de São Paulo. Além das prisões, os policiais cumpriram ontem 78 mandados de busca e apreensão. Ao todo, foram apreendidos R$ 940 mil, US$ 711 mil e 170 mil, além de cheques, documentos e computadores. Foram bloqueadas ainda 15 contas correntes cujos valores em depósito não foram revelados. Os 35 doleiros - dos quais 24 são de São Paulo, 4 de Goiás e 7 de Minas - estão presos temporariamente na Superintendência da PF em São Paulo, mas poderão ter a prisão preventiva decretada.
Segundo o chefe da Delegacia Fazendária de São Paulo, Roberto Troncon, os clientes dos doleiros, pessoas físicas e jurídicas, também serão alvo de investigação e poderão, eventualmente, ter a prisão decretada. Alguns já sofreram buscas em seus escritórios.
A reportagem tentou entrar em contato com o presidente da Câmara Brasil-China, Fabio Hu. Quem atendeu o celular de Hu foi sua esposa, que disse que ele estava viajando. A página de abertura do site da câmara traz uma foto de Hu com o presidente Lula em uma recepção no Itamaraty em 2004. A página do site com o nome da diretoria da câmara foi retirada do ar.