Título: Vedoin protege 8 deputados, suspeita CPI
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2006, Nacional, p. A4

A cúpula da CPI dos Sanguessugas tem indícios de que o empresário Luiz Antônio Vedoin, um dos sócios da Planam, está negociando com pelo menos oito parlamentares a retirada de seus nomes da lista de acusados de receber propina. Segundo dirigentes da CPI, a maioria desses parlamentares seria de Mato Grosso, onde fica a sede da Planam, empresa que funcionava como central de operações da máfia dos sanguessugas. A comissão também tem informações de que esses oito parlamentares têm dívidas com o empresário.

Integrantes da CPI começaram a suspeitar de Luiz Antônio depois que ele poupou os oito parlamentares em depoimento à CPI há uma semana, na sede da Polícia Federal, em Brasília. Antes, ao ser inquirido pela Justiça Federal de Mato Grosso, o empresário acusara esses congressistas de apresentar emendas ao Orçamento da União para a compra de ambulâncias superfaturadas por prefeituras. Entre os inocentados agora por Luiz Antônio, estão os deputados Pedro Henry (PP-MT) e Tetê Bezerra (PMDB-MT).

"Vejo isso como uma tentativa de livrar alguns parlamentares. Mas, se ele está negociando para livrar parlamentares, não vou admitir isso. Ele vai perder todos os benefícios da delação premiada e voltar para a cadeia", ameaçou o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ). Outro integrante da CPI, o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS), completou: "Na nossa visão, ele está querendo proteger os deputados de Mato Grosso." Levantamento feito por um dos sub-relatores da comissão, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), detectou 13 pontos de divergências entre os depoimentos de Luiz Antônio à Justiça Federal e à CPI dos Sanguessugas.

Desses 13 pontos, 8 se referem a inocentar parlamentares envolvidos com a máfia dos sanguessugas. Para Biscaia, os novos depoimentos do empresário à CPI são desnecessários e só servem para enfraquecer as acusações já feitas. "Esses depoimentos só favorecem para isentar pessoas. Por isso, adverti o (Luiz Antônio) Vedoin: se ficar evidenciado que há tentativa para inocentar A, B ou C vou oficiar ao juiz de Mato Grosso e pedir que ele perca os benefícios da delação premiada e volte para a prisão."

Depois da ameaça de Biscaia, Luiz Antônio resolveu voltar no fim da tarde acompanhado de advogados para falar com integrantes da comissão. No início da noite, depois de conversar com o empresário, o deputado Carlos Sampaio se incumbiu de baixar o tom dos colegas. Disse que a comissão jamais duvidou da conduta de Luiz Antônio, que ele "esclareceu todas as dúvidas" e que "em momento algum tentou favorecer quem quer que seja". E concluiu: "A tese de desacreditá-lo só interessa aos parlamentares envolvidos, porque eles querem retirar a credibilidade de um depoimento que os acusou com veemência e com provas convincentes."

COMPROVANTES

Pela manhã, o empresário se reuniu com a cúpula da CPI e entregou demonstrativos de depósitos bancários que, segundo o vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE), comprovam repasse de recursos para cinco parlamentares contra os quais havia apenas indícios de participação nas fraudes. Segundo ele, Luiz Antônio também teria apontado irregularidades em duas licitações para a aquisição de ambulâncias para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

O empresário disse que sofreu ameaças e constrangimentos de dois deputados acusados de participar do esquema. "Eles criaram constrangimentos e vieram para cima de mim", disse o empresário, segundo Jungmann. Mas Luiz Antônio preferiu não revelar os nomes. Assustado, ele decidiu voltar para Cuiabá na noite de ontem.