Título: Cuba tenta limitar diálogo diplomático
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2006, Internacional, p. A20

As dúvidas sobre o futuro da ilha, o sigilo oficial sobre o estado de saúde de Fidel Castro e o silêncio de seu irmão e sucessor, Raúl Castro, começam a causar mal-estar entre Cuba e outros países da região. Provavelmente seguindo instruções do governo, o segundo vice-presidente Carlos Lage condicionou os temas que seriam discutidos durante encontro que manteria com o presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Ambos estão em Bogotá, onde participaram da cerimônia de posse do presidente colombiano reeleito, Álvaro Uribe, segunda-feira.

Irritado com a limitação da agenda, Arias cancelou um encontro previamente marcado com Lage. O costa-riquenho pretendia enviar, por meio do funcionário cubano, uma mensagem na qual convidava Raúl a promover a abertura democrática de Cuba. "Obviamente, ele veio informado sobre o que eu pretendia falar", disse Arias. "Cancelei a reunião porque não posso admitir que me imponham condições sobre quais temas devo ou não tratar."

Na véspera, Lage disse que Fidel se recuperava satisfatoriamente e voltaria ao poder nas próximas semanas. Já o membro do Conselho de Estado cubano Roberto Fernández Retamar usava pela primeira vez a palavra "sucessão" para designar a situação em Cuba e estimava em "alguns meses" o tempo de recuperação de Fidel.

Ontem, o único comentário de alguém ligado ao regime sobre a saúde de Fidel foi da médica pediatra Aleida Guevara, filha do guerrilheiro Ernesto Che Guevara. "O comandante está se recuperando bem", disse, num fórum virtual organizado pela chancelaria. "No início nos assustamos muito, mas ele ainda estará por muito tempo na ativa. E, o que é mais importante, sempre estará junto a seu povo." O ex-presidente nicaragüense Daniel Ortega, que visiou a ilha no fim de semana, disse que Fidel "já está ativo, mantém comunicações telefônicas e orienta tarefas". Ortega não disse, porém, se se encontrou com o líder cubano ou recebeu essas informações de terceiros.

Analistas na Flórida consideram improvável que Fidel, que faz 80 anos no domingo, retome um dia suas funções, mesmo que se recupere da cirurgia de urgência a que foi submetido para estancar uma hemorragia intestinal. "Nunca voltará ao poder", disse o ex-analista da CIA para Cuba Brain Latell, numa mesa redonda na Universidade de Miami. Outro estudioso de Cuba, Jaime Suchlicki, afirmou que, se Fidel regressar, assumirá uma função apenas honorária.