Título: Planalto corteja o maior infiel da base aliada
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Nacional, p. A8

Com cargos no primeiro escalão, assento garantido na coordenação da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tapete vermelho reservado para saudá-lo como aliado vip num eventual segundo mandato petista, o PMDB ostenta até agora o título de partido mais infiel da base de sustentação do governo. Levantamento feito pela Secretaria de Relações Institucionais, tendo como parâmetro dez votações consideradas prioritárias pelo Palácio do Planalto na Câmara, indica que o PMDB é, entre todos os aliados, o que mais traiu Lula desde dezembro de 2005.

O termômetro que mediu a temperatura dos governistas no último semestre mostra o tamanho do desacerto palaciano no Congresso, 13 meses depois do escândalo do mensalão. Numa escala em que o índice 8 corresponde a 100% de fidelidade e -8 ao adultério completo, o PMDB obteve -0,52. Na outra ponta, o PT de Lula ainda é o partido mais chapa branca: atingiu 7,16.

Apresentado na reunião ministerial de terça-feira, o estudo que exibiu a base aliada em frangalhos e a oposição mais aguerrida neste ano eleitoral serviu como mote para a defesa da reforma política. O documento, obtido pelo Estado, levou em conta a média dos resultados de votações de nove medidas provisórias e um projeto de lei submetidos ao plenário da Câmara no período que vai de 13 de dezembro de 2005 a 7 de junho passado.

Pelo critério estabelecido, deputados que seguiram a orientação do Planalto nas votações ganharam mais um. Os que foram contra, menos um.

Nas fileiras da oposição, os maiores índices de rebeldia foram do PFL (-6,60), Prona (-6,50), PSDB (-5,79) e PDT (-5,40). Perfilaram-se na seqüência PV (-4,57%), PPS (-4,38%), PRB (-2,50) - partido do vice-presidente José Alencar - e PSOL (-1,71).

Apesar do alto teor governista (7,16), nem mesmo o PT mostrou 100% de fidelidade, revelando defecções na bancada. Por ordem de apoio ao governo, aparecem logo depois o PC do B (6,18), PSB (4,18), PL (3,97), PSC (2,67), PTB (2,66) - pivô do escândalo do mensalão -, PTC (1,00) e PP (0,75). O único partido da base de apoio com índice negativo foi o PMDB.

QUEIXA

Cortejado por Lula, o mesmo PMDB que há duas semanas ganhou a presidência e três diretorias dos Correios não ajudou o governo a aprovar a medida provisória que reajusta em 5% as aposentadorias acima de um salário mínimo. Motivo: muitos deputados, de olho na própria reeleição, defenderam o aumento de 16,67%. O instinto de sobrevivência política falou mais alto.

"É inaceitável o que está acontecendo na Câmara: nem mesmo a Lei de Diretrizes Orçamentárias foi votada", reclama o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

Na contabilidade do Planalto, a base aliada é composta por 333 deputados e a oposição, por 180. Na prática, porém, a teoria é outra. "Quanto mais próximo o processo eleitoral, mais a votação se torna pragmática e sem controle dos líderes", constata o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Tarso Genro. "Não é questão de moralidade da política, mas uma demonstração da falta de nexo programático dos partidos."