Título: Para Temer, Lula deve tirar lição e negociar
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Nacional, p. A9

A constatação de que o PMDB é a sigla mais infiel da base aliada deve servir de "lição" para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi assim que o deputado Michel Temer (SP), presidente nacional do PMDB, reagiu ao saber do estudo do governo sobre o comportamento dos partidos na Câmara.

"Isso demonstra que não vale a pena fazer acordos individuais dentro do PMDB " disse Temer, da ala oposicionista. No seu diagnóstico, o PMDB "nunca foi inteiramente" da base de sustentação do Planalto. "E agora essa análise sobre a infidelidade é a revelação mais evidente de que não é bom governar com parcelas do partido", insistiu o deputado, que apóia a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB).

Com ou sem traição, os salamaleques de Lula na direção do PMDB vão continuar. O presidente está convencido de que, se vencer a disputa pela reeleição, só conseguirá governar se tiver o apoio de um partido de capilaridade nacional. É por isso que não se cansa de bater na mesma tecla: num eventual segundo mandato, pretende fazer a reforma política e um "governo de coalizão".

"Nenhum presidente terá governabilidade para aplicar seu programa se não houver reforma política, com fidelidade partidária e financiamento público de campanha", admitiu o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro. "E nós queremos a integração do PMDB como instituição", completou Tarso, num recado para Temer.

A proposta do governo é que o formato da reforma seja debatido com os aliados quando for rascunhado o programa mínimo para a coalizão. Na lista dos pontos que o Planalto gostaria de discutir nesse programa também estão as metas de crescimento e de inflação.

Para espantar a crise do mensalão e não ficar refém das pequenas legendas, Lula deseja que o PMDB seja seu parceiro preferencial. Há uma semana, na reunião em que 19 diretórios peemedebistas anunciaram apoio à sua candidatura, ele foi além: afirmou que o PMDB terá "o espaço que merece".

No modelo planejado pelo Planalto, a idéia é distribuir "setores inteiros" do governo aos parceiros fiéis. "Uma coisa é governo de coalizão e outra é cooptação e loteamento", provocou Alckmin.

Aliado de Lula, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), adota o discurso de que o governo de coalizão só tem sentido se não se resumir à "mera ocupação" de espaços. Na avaliação de Renan, as divergências internas do partido precisam ser "decantadas". "Vamos esperar para sentir o pulso do PMDB", disse.

Nas trincheiras do PMDB oposicionista, o deputado Eliseu Padilha (RS) aproveitou a deixa: "Eu não traí ninguém. Sempre fui coerente com as minhas posições."

Para o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), a proposta de Lula é "uma necessidade". "O núcleo histórico de esquerda que sempre apoiou Lula é insuficiente para manter a governabilidade no País", argumentou.