Título: Barreira vai fortalecer 'bipartidarismo branco'
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Nacional, p. A14

A cláusula de barreira, que tende a eliminar os pequenos partidos, deve aprofundar o "bipartidarismo branco" que o País vive no plano federal desde os anos 90. Para cientistas políticos, PT e PSDB terão papel central em coligações de centro-esquerda e centro-direita, respectivamente, que se tornarão mais duradouras e estáveis a partir de 2007. Isso vai facilitar a vida do eleitor, ampliando sua compreensão da cena política.

As legendas que não ultrapassarem a barreira vão virar "partidos-zumbis" no dia seguinte, acredita Amaury de Souza, sócio da MCM Consultores Associados. Para ele, pode haver deputados desses partidos que tentem dar sobrevida a suas agremiações. O cálculo mais provável para os barrados, no entanto, deve levá-los a migrar para os partidos maiores.

Sairão fortalecidas duas grandes coalizões - uma em torno do PT e outra com o PSDB. "Essa tendência já existe desde 1994, mas ganhará mais nitidez", aposta Souza. Muitos partidos de centro que oscilavam entre um e outro estão com os dias contados, a exemplo de PTB e PL. E o novo arranjo favorece alianças duradouras entre partidos com maiores afinidades, diz o cientista político.

José Paulo Martins Jr., professor da Escola de Sociologia e Política, avalia que hoje o sistema partidário brasileiro sofre ação de uma força centralizadora - as eleições majoritárias, sobretudo para presidente - e de outra fragmentadora - as eleições proporcionais, para a Câmara, por exemplo. "Com a barreira e um número menor de partidos, deixa de haver o impulso para a dispersão", diz. "A predominância de PT e PSDB se expressará com mais vigor."

O cientista político acredita que a barreira vá incentivar a fusão de legendas com afinidades ideológicas e programáticas, que hoje só estão separadas para acomodar lideranças com incompatibilidades.

No novo cenário, é fácil prever para onde vai pender o PFL, aliado histórico dos tucanos, e o PSB, próximo dos petistas. Mais complicado é imaginar aonde vai o PMDB. "Tende a se aproximar do partido que ficar com a Presidência e a oferecer um apoio que nunca será integral", avalia Martins Jr. "Se Lula vencer, o PMDB vai aderir, até por falta de opção. Mas não é uma coalizão para durar, ela só funciona com Lula no poder", diz Amaury de Souza.

Desde o governo Itamar Franco, todos os presidentes precisaram do PMDB para governar, mas o partido nunca deu seu apoio em bloco. No governo Fernando Henrique Cardoso, era a legenda aliada mais indisciplinada, segundo Jairo Nicolau, pesquisador visitante do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford. O comportamento se repetiu na gestão Lula. "Vai acontecer de novo", aposta Nicolau.

Ou seja: o PMDB continuará sendo a noiva cortejada - e com dote aumentado. Carlos Ranulfo, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, acredita que uma eventual vitória de Lula fará o PMDB atrair deputados eleitos por PL e PTB, caso não vençam a barreira. "Cláusulas de barreira sempre favorecem os maiores partidos, e o PMDB sairá beneficiado."