Título: Vlad, o grande, resgatou o orgulho russo
Autor: Walter Mayr, Christian Neef
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Internacional, p. A18

Vladimir Putin, compreendeu o humor depressivo que dominava a nação. A partir desse ponto, começou a falar dos ¿valores tradicionais¿ da Rússia, que o país não lembraria os Estados Unidos ou a Grã-Bretanha no futuro previsível, e a democracia russa ¿nunca vai copiar o modelo liberal do Ocidente¿. Também insistiu que ¿só um Estado forte pode garantir a liberdade¿. As palavras de Putin foram um alívio para as almas atormentadas de seus concidadãos. Mesmo depois da queda do comunismo, no máximo um em cada seis russos votou em algum dos novos partidos liberais. Dois terços dos russos logo passaram a lamentar o colapso da grande União Soviética. A primeira iniciativa de Putin foi invocar um virtual renascimento da Rússia como uma grande potência. Soldados com fardas do início do século 19 seguravam a bandeira nacional e o estandarte presidencial no Palácio do Kremlin na cerimônia de posse de Putin, em 7 de maio de 2000, numa mistura de símbolos czaristas, soviéticos e pós-soviéticos que invocava o antigo papel da Rússia. O novo homem no Kremlin prometeu nacionalizar as principais indústrias, combater o crime e restaurar a influência dos militares. Também tentou ressuscitar o orgulho dos russos por seu próprio país, tratando os oligarcas como perdedores num mundo em mutação e os democratas como chekistas (termo usado na era soviética para designar membros de organizações policiais secretas).

Ele reinstaurou o velho hino nacional soviético, com versos que agora louvam a Rússia como uma ¿potência sagrada¿. Reintroduziu o uso da bandeira vermelha pelos militares, banido por Boris Yeltsin, e então, numa grande celebração nacional em 2005 para marcar os 60 anos da vitória soviética na 2ª Guerra Mundial, ressuscitou o poderoso mito da Grande Guerra pela Pátria. Contra o pano de fundo de milhares de veteranos em marcha e diante de dezenas de chefes de Estado e líderes da Igreja Ortodoxa russa, o orgulho pelo passado se transformou numa nova consciência do status de superpotência.

Stalin e o ex-líder do Partido Comunista Leonid Brejnev, outrora símbolos da estagnação e até recentemente motivos de escárnio, surgem de repente como heróis numa nova série televisiva - ambos como homens que ajudaram o povo a conquistar a verdadeira força (militar).

Na nova versão da história soviética, o bem e o mal são cuidadosamente separados. Nona Companhia, o primeiro filme da Rússia sobre a guerra soviética no Afeganistão, só virou um sucesso de bilheteria de US$ 20 milhões no ano passado porque omitiu a humilhante derrota do país na região do Hindukush. Até os jovens da Rússia agora vêem a campanha como uma ¿luta contra o terrorismo¿ .

Nos seis anos e meio desde o fim da era Yeltsin, o líder do Kremlin conseguiu o que parecia impensável: um em cada dois russos agora acha que o país está à altura dos EUA. E 38% estão convencidos de que Putin é o responsável pela nova proeminência da Rússia, elogiando seu presidente como ¿o líder mais bem-sucedido de nosso país desde 1917¿ .