Título: Rússia volta a falar grosso em questões externas
Autor: Walter Mayr, Christian Neef
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Internacional, p. A18

Nos últimos 15 anos, o arsenal de diplomatas russos incluiu de tudo, da retórica de confronto a gestos de cooperação, e de tentativas juvenis de captar a simpatia do Ocidente a posar de grande potência.

A Rússia estava fraca e dependia demais do apoio ocidental, o que explicava seus incansáveis esforços para demonstrar "que tipo de país nos tornaremos", para citar Boris Yeltsin. Ele teve de ficar observando impotente enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) intervinha nos Bálcãs e estendia sua aliança ao coração da Europa Oriental. Desde os ataques terroristas de 2001 nos EUA, Vladimir Putin vem tentando reivindicar um novo papel para a Rússia. Ele se associou à aliança global contra o terrorismo, apoiou a intervenção no Afeganistão, aceitou a instalação de bases americanas nas fronteiras meridionais da Rússia na Ásia Central, e nem fez objeções significativas à guerra no Iraque.

Da perspectiva russa, contudo, o Ocidente nunca a recompensou por esse recuo. Quando as revoluções "arco-íris" apoiadas pelos americanos eclodiram na Geórgia, Ucrânia, e Quirguistão, países diretamente às portas da Rússia, a auto-imagem geopolítica da Rússia atingiu seu ponto mais baixo, e um governo ultrajado resolveu contra-atacar.

A administração Bush é agora obrigada a observar, com irritação, enquanto a Rússia recupera sua influência nos Estados pós-soviéticos da Comunidade de Estados Independentes (CEI). Quando o presidente pediu para os americanos saírem do Usbequistão no ano passado (os americanos haviam criticado o regime muito abertamente), a Rússia prontamente ofereceu à nação da Ásia Central seu próprio pacto de segurança.

A rival China se transformou num substituto para os EUA, e Putin reuniu-se cinco vezes com seu colega chinês, Hu Jintao, em 2005. Ele sugeriu que a Rússia poderia se interessar num oleoduto similar ao planejado até o Japão. A humilhação pós-soviética é coisa do passado. Os russos pegaram o gosto de jogar duro.