Título: Bush barra entrada da Rússia na OMC
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Economia, p. B5
A Rússia começou com um fracasso o primeiro dia da cúpula do Grupo dos Oito (G-8), que reúne líderes dos países mais industrializados do mundo, em São Petersburgo. Após uma reunião na manhã de ontem, foi divulgado que o país não recebeu o sinal verde dos Estados Unidos para entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC). "Ainda há trabalho a fazer" para ser firmado um acordo, disse o presidente americano, George W. Bush, durante uma entrevista que concedeu com o presidente russo, Vladimir Putin, cujo país recebe pela primeira vez a reunião do G-8.
"Desejamos a entrada da Rússia na OMC e vamos continuar negociando", afirmou Bush, garantindo que um acordo estava "quase fechado". As regras da OMC, formada por 149 países e que regula o comércio no mundo, prevêem que qualquer novo membro deve firmar acordos bilaterais com seus participantes para poder integrá-la. E a Rússia ainda tem acordos pendentes com os Estados Unidos.
Putin esperava firmar o acordo no momento em que se reúnem em seu próprio país as principais potências mundiais, acontecimento que confirma o retorno da Rússia à corte dos mais poderosos do planeta. Participam do G-8 Estados Unidos, França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Japão e Canadá. A Rússia espera receber o status de membro de pleno direito.
Moscou negocia desde 1993 sua entrada na OMC, com a esperança de que isso estimule suas trocas comerciais com o resto do mundo. Mesmo possuindo enormes reservas de hidrocarbonetos - tem as maiores de gás -, a Rússia é o único gigante econômico que não pertence à organização.
O governo russo negociou intensamente nos últimos dias, para tentar obter o indispensável acordo com Washington a tempo da realização do G-8. Mas o governo americano, com forte pressão interna, manteve-se firme diante de Putin e decidiu não fazer concessões.
Até a semana passada Estados Unidos e Rússia não haviam entrado em acordo sobre serviços financeiros, que incluía o direito de bancos estrangeiros instalarem sucursais em território russo. Na sexta-feira, a delegação americana retirou essa exigência. Em troca, a Rússia autorizou a presença de filiais de seguradoras estrangeiras, embora tenha se reservado o direito de estabelecer uma cota sobre o capital estrangeiro que entrará no setor.
Mas há outras disputas bilaterais pendentes, como os subsídios a agricultores russos e a flexibilização da Rússia nas regras fitossanitárias, tidas como protecionismo encoberto.
Putin não conseguiu esconder sua decepção com esse fracasso durante a coletiva com Bush. "É um processo difícil, vamos continuar trabalhando", disse o presidente russo, lembrando que a Rússia vai continuar defendendo seus "interesses nacionais".
A representante do Comércio Exterior dos Estados Unidos, Susan Schwab, que participa do encontro em São Petersburgo, disse que as duas partes vão tentar chegar a um acordo dentro de dois ou três meses. "Fizemos avanços significativos, acertamos virtualmente as questões industriais e de serviços, tivemos progressos excelentes sobre direitos de propriedade intelectual e estamos muito perto de um acordo na agricultura", afirmou.
A Rússia tem outro conflito comercial para resolver, agora com a Geórgia, que já integra a organização. O país causou surpresa ao questionar acordo feito em maio de 2004 para a entrada da Rússia na OMC.