Título: De coroinha a chefão do tráfico
Autor: BRUNO PAES MANSO E MARCELO GODOY
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2006, Metrópole, p. C3

Segundo a inteligência da Polícia Civil de São Paulo, se Marcos Camacho, o Marcola, morrer, quem assumirá a liderança máxima do crime organizado será Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue. Principal nome da segunda geração do Primeiro Comando da Capital, ele é tido pela polícia como um bandido violento.

A segunda geração de chefes do PCC distanciou-se do grupo de fundadores da facção. É gente que defende o terrorismo como método de enfrentar o Estado, da qual fazem parte ainda Abel Pacheco, o Vida Loka, Roberto Soriano, o Tiriça, Carlos Eduardo da Silva, o Balengo, Orlando Mota Júnior, o Macarrão, Robson Lima Ferreira, o Marcolinha, e Eduardo Lapa dos Santos, o Edu Lapa.

"Assim como o BH (Emivaldo Silva Santos), o Gegê é o homem do poder político, enquanto o Biroska (Edílson Borges Nogueira) é o homem do poder econômico", afirma um delegado. Para a polícia, o atual segundo na hierarquia da facção, Julio Cesar Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, vive à sombra de Marcola e cairia com o chefe, em caso de mudança na cúpula.

Gegê começou no PCC por meio de um padrinho forte: Carlos Magno Zito Alvarenga, o Nego Manga. Nego Manga foi morto na Penitenciária de Iaras em maio de 2005 durante o expurgo da ala do PCC ligada a Sandro Henrique da Silva Santos, o Gulu, único bandido capaz de desafiar o poder de Marcola.

Gegê começou a subir na hierarquia do PCC após a morte do juiz-corregedor de Presidente Prudente Antonio Machado Dias. Ele foi flagrado levando a Marcola um bilhete com o anúncio de que o atentado tinha dado certo. Na época, era o piloto (gerente) do PCC na Penitenciária de Avaré.

INFÂNCIA

Sua infância, porém, nada teve de diferente da de toda a comunidade do Mangue, na Vila Madalena. Gegê jogava futebol no time do Mangue e participava até de torneios maiores, nos campos de várzea do Parque do Povo, na Avenida Cidade Jardim. A camisa era amarela, com uma folha de maconha desenhada, que depois passou a ser usada na antiga Casa de Detenção, no Carandiru.

Rogério estudou na Escola Estadual de 1º Grau Brasílio Machado. Ia à igreja e algumas pessoas ouvidas pelo Estado garantem que na casa da mãe há uma foto de Gegê e do irmão, Cristiano, com roupas de coroinha. Participavam dos ensaios na Escola de Samba Pérola Negra e freqüentavam os bares da Vila, como outros garotos do Mangue. Seus preferidos eram o Tihuana, que funcionava na Rua Fradique Coutinho, e uma padaria 24 horas na Rua Cardeal Arcoverde.

Quando Gegê e Cristiano começaram a se envolver com o comércio de drogas, a mãe ficou louca da vida. Cansou de dar bronca nos dois na frente de outros garotos. Apesar disso, sempre apoiou os filhos.

A carreira de Gegê no crime começou nos anos 90. Em 1995, veio a primeira prisão. Processado depois por formação de quadrilha - já como integrante do PCC -, acabou condenado a 6 anos de prisão. Hoje, a pena somada de suas sentenças chega a 15 anos e meio.