Título: UE ainda acredita na Rodada Doha
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2006, Economia, p. B4

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, disse ontem que os países europeus, os Estados Unidos e o G-20 poderão chegar a um acordo para a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) até julho. Segundo ele, para atingir este objetivo, é preciso que os atores globais aprofundem as negociações e façam um "esforço suplementar".

"Espero que todos façam um esforço final e, com espírito de compromisso, encontrem uma solução", disse Barroso, após participar do seminário "Brasil e União Européia: Desafios para o Futuro", realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Apesar da disposição indicada pelo comissário europeu em encontrar uma solução para as negociações da OMC, ficou claro que existe ainda um profundo impasse entre os empresários brasileiros e os negociadores europeus. Enquanto a Europa cobra liberalização de acesso aos mercados industrial e de serviços no Brasil, o empresariado brasileiro exige o fim da sobretaxação aos produtos agrícolas pelos europeus e dos subsídios concedidos aos agricultores pelo governo americano.

"Entendemos que a última oferta brasileira promove avanços significativos em indústrias e serviços. Parece-nos que os europeus e americanos avançaram de forma insuficiente até o momento em que suas ofertas e os próximos passos estão para ser dados mais pelos EUA e União Européia (UE) do que pelo Brasil", avaliou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Barroso se queixou da concentração dos posicionamentos brasileiros em "fatores irritantes na relação agrícola", e cobrou uma ampliação do espectro de negociação. Segundo ele, a Europa é o maior investidor direto no Brasil e adquire 38% das exportações agrícolas brasileiras, enquanto os EUA assumem uma fatia de 8%. Por isso, o comissário é favorável a uma negociação "mais ampla", o que não foi muito bem aceito pelos industriais paulistas.

Em mais um gesto diplomático para tentar salvar a Rodada Doha da OMC, Barroso insistiu em que uma solução entre os países seria positiva em três aspectos: econômico, por estimular o comércio entre as nações; político, porque Brasil e UE são favoráveis ao multilateralismo, e social, pois a expansão do comércio entre os povos tende a favorecer principalmente as nações mais pobres.