Título: Kirchner admite falta e compra diesel brasileiro
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2006, Economia, p. B6

O governo do presidente Néstor Kirchner parou de fazer desmentidos sobre sobre a escassez de combustível no país e fechou a compra urgente com a Petrobrás de 20 mil metros cúbicos de óleo diesel.

O pedido foi feito pelo ministro do Planejamento, Julio De Vido, braço-direito de Kirchner, ao ministro de Minas e Energia do Brasil, Silas Rondeau, que visitou Buenos Aires na terça-feira.

Este é o segundo ano consecutivo que a Argentina importa diesel para driblar uma crise no abastecimento. Ao mesmo tempo, o governo pressiona as empresas de combustíveis para que importem diesel e formem um estoque, mesmo que tenham prejuízo depois, para vender no mercado argentino, onde os preços são mais baixos.

O governo Kirchner costuma pressionar as empresas de combustível para obter o que quer. Petrobrás, Shell e Esso já foram vítimas. Se tentam resistir às exigências, sofrem represálias que vão de aumento nos impostos até cassação das concessões. A nova crise se junta a outras, como a da área de energia, e está dando munição para a oposição criticar o presidente.

A falta de diesel ameaça a colheita da soja e o plantio do trigo. Causa problemas para o transporte de cargas. Na cidade, irrita os motoristas na hora de abastecer.

O diesel brasileiro que chegará ao porto de Buenos Aires em menos de duas semanas equivale à venda de um mês de cem postos de gasolina. Representa um aumento de 2% na oferta de combustível no país. A demanda de diesel aumentou 5% nos primeiro quadrimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a 4,03 milhões de metros cúbicos.

VENDAS Segundo a Secretaria de Energia, a Repsol YPF aumentou as vendas de diesel em 7% entre janeiro e abril deste ano em comparação com o mesmo período de 2005. A Esso incrementou as vendas em 9%. Shell e Petrobrás registraram o mesmo volume do ano passado.

A Confederação de Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa (Carbap) alertou que o desabastecimento resultará em problemas sérios para a colheita da soja e ao plantio do trigo. O setor consome 4 milhões de litros de diesel por ano.

No meio da crise, os postos de gasolina, reclamam da falta de lucros. Quarta-feira, protestaram fechando os estabelecimentos em todo país por 3 horas.A Confederação de Entidades de Comércio de Hidrocarbonetos e Afins da República Argentina (Cecha), que reúne 4.700 postos de gasolina no país, disse que quer apenas "uma parte dos lucros das companhias petrolíferas" e lembra que, em 3 anos, mais de 2 mil postos de gasolina fecharam.

Para o empresário Maurício Macri, presidente do time do Boca Juniors e líder da coalizão de centro-direita Proposta Republicana (PRO), de oposição ao governo, disse que se não forem tomadas medidas urgente na área energética, antes de 2009 a Argentina se transformará em um país importador de petróleo.