Título: EUA crescem pouco. Mercado gosta
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Economia, p. B1
A economia americana cresceu menos do que o esperado no segundo trimestre, o que animou investidores do mundo todo. O Produto Interno Bruto (PIB) do país teve expansão de 2,5% em termos anualizados, de acordo com a primeira estimativa divulgada pelo Departamento de Comércio. A maior parte dos analistas projetava um crescimento na casa de 3%. As bolsas de valores subiram nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. Por aqui, o dado também provocou um recuo de 0,78% do dólar, que fechou cotado a R$ 2,174.
¿Não havíamos previsto uma desaceleração tão acentuada¿, disse Sal Guatieri, analista do BMO Financial Group. ¿ O consumo caiu muito e o investimento das empresas e os gastos públicos apresentaram uma fraqueza inesperada.¿ Segundo o relatório, tanto os gastos das famílias quanto os investimentos corporativos foram afetados negativamente pela alta das cotações do petróleo. De outro lado, o índice de preços que o governo americano utiliza para deflacionar o PIB registrou elevação acima do esperado. O Índice de Preços ao Consumidor subiu 4,1% no segundo trimestre, ante 2% no primeiro. O núcleo do indicador, que exclui os gastos com alimentação e energia, avançou 2,9%, ante 2,1% nos três primeiros meses do ano.
Nesse sentido, os dados confirmam o que a autoridade monetária do país já vinha afirmando: a economia desacelera com pressões inflacionárias. De acordo com analistas, esses porcentuais (especialmente do núcleo) estão acima dos níveis tolerados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Ainda assim, a avaliação geral foi de que o ciclo de alta da taxa básica de juros está mesmo perto do fim.
Ontem, os negócios com contratos futuros de títulos públicos americanos (os chamados Fed Funds) apontaram uma queda na probabilidade de o Comitê de Política Monetária do país elevar em 0,25 ponto porcentual, para 5,5% ao ano, os juros em sua próxima reunião, em 8 de agosto. Essa probabilidade era de 42% na quinta-feira e passou a 31% ontem. ¿O relatório aumenta a chance de o Fed manter as taxas inalteradas, a menos que os dados de emprego relativos a julho sejam particularmente bons¿, avaliou Guatieri.
A queda da atividade no segundo trimestre se explica principalmente pela redução dos gastos das famílias - 2,5% de expansão agora, ante 4,8% no primeiro trimestre. Além disso, o desempenho do setor imobiliário foi negativo, a exemplo do que já havia ocorrido nos dois trimestres anteriores. Desta vez, o recuo foi de 6,3%.
¿Os consumidores estão sofrendo o peso das elevações da taxa de juros, da disparada dos preços do petróleo e do endividamento crescente¿, explicou Peter Morici, professor de Economia da Universidade de Maryland. ¿Com a desaceleração do mercado imobiliário, as pessoas já não podem aumentar o consumo mediante o refinanciamento de seus empréstimos.¿