Título: Merkel não quer o Brasil no G-8
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Economia, p. B3

A chanceler alemã Angela Merkel, que vai assumir a presidência rotativa do G-8 em 2007, rejeitou a proposta apresentada pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, que previa a ampliação do grupo dos países mais industrializados do mundo, com a inclusão de Brasil, China, Índia, México e África do Sul, informou ontem o Financial Times. Segundo o diário britânico, os países em desenvolvimento, com exceção da China, correm o risco de não participar nem mesmo como convidados dos encontros de cúpula e de ministros das Finanças do G-8 no ano que vem.

Merkel pretende alterar profundamente a agenda do encontro de cúpula do G-8, que nos últimos anos tem se concentrado em temas ligados ao desenvolvimento. A líder alemã quer que o grupo se concentre mais em assuntos econômicos, inclusive os desequilíbrios globais que ameaçam a estabilidade financeira.

Segundo o Financial Times, essa mudança no foco do G-8 é uma das razões apresentadas por Angela Merkel para rejeitar a ampliação do grupo com a entrada dos cinco países em desenvolvimento. Ela teme que um G-8 expandido corra o risco de repetir a experiência dos encontros de cúpula da União Européia (UE), nos quais as discussões sobre temas pré-agendados se tornaram impossíveis depois de o bloco ter sido ampliado a 25 nações.

Pouco antes do encontro de cúpula do G-8, no início do mês, em São Petersburgo, na Rússia, Blair havia proposto a criação do G-13, com a inclusão permanente dos grandes países emergentes. Isso, para ele, daria mais representatividade ao grupo e fortaleceria a negociação de acordos multilaterais. Ao longo dos últimos anos, o Brasil e outros países em desenvolvimento têm participado regularmente como convidados dos encontros de ministros das Finanças e dos líderes do G-8. Mas, segundo o jornal britânico, em 2007 apenas a China será incluída nas reuniões ministeriais.

Representantes do governo brasileiro e de outros emergentes vinham reclamando há tempos que o espaço reservado a eles pelo G-8 era muito reduzido, limitando-se apenas a reuniões paralelas realizadas à margem da agenda principal dos encontros de ministros e líderes. Os países em desenvolvimento também não participavam da elaboração do comunicado final das cúpulas do G-8.

RAÍZES

A chanceler alemã avalia que a agenda do G-8 se tornou excessivamente ampla, abrangendo temas como a pobreza no Terceiro Mundo, mudança climática e epidemias. Fontes do governo alemão disseram ao Financial Times que Merkel pretende que o G-8 ¿retorne às suas raízes¿ das cúpulas econômicas da década de 70 e volte a focar na economia global.

Essa decisão reflete a crescente preocupação entre autoridades européias com os desequilíbrios globais, como as posições divergentes dos balanços em conta corrente das principais regiões econômicas do mundo. Será a quinta vez que a Alemanha presidirá o G-8. Em janeiro de 2007, o país ainda assumirá a presidência da União Européia por seis meses.