Título: EUA correm para salvar Doha e não ficar com ônus do fracasso
Autor: Nilson Brandão Junior e Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Economia, p. B4

A representante dos Estados Unidos para o Comércio (USTR), Susan Schawb, indicou ontem que ainda há tempo, embora curto, para que as negociações da Rodada Doha sejam retomadas. Mas caso um consenso mínimo não seja alcançado para a reabertura da rodada até março, os entendimentos correm o risco de entrar no "freezer" por dois a três anos.

Susan, que tem status de ministro, começa pelo Brasil uma série de reuniões ao longo dos próximos dois meses, com países que participam das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), para buscar pontos mínimos de consenso. A embaixadora vai se reunir hoje com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no Rio. "Espero que o encontro com o ministro Amorim ajude a colocar as negociações de volta nos trilhos", disse Susan.

Ela chegou a comentar que "se houver um acordo em agricultura e indústria, num prazo de três a seis meses, dá para finalizar o resto das negociações". Apesar do esforço que pretende fazer, a representante dos Estados Unidos reconheceu que pode não ser possível ressuscitar a Rodada Doha. Tudo vai depender de se alcançar um consenso mínimo nos próximos meses.

Para Susan, ainda não há condições de prever se haverá sucesso na tentativa de um entendimento mínimo antes das reuniões com os demais ministros. O consenso em torno de um acordo fica mais difícil à medida que o tempo passa e as negociações que já evoluíram em Doha podem acabar ficando "obsoletas". "Estamos numa corrida contra o relógio."

No front americano, uma das preocupações é que expira em julho o prazo para o governo fazer acordos comerciais sem autorização do Congresso, o chamado Trade Promotion Authority (TPA).

Entre especialistas, a avaliação é de que os Estados Unidos, que chegaram a ser acusados pelo fracasso de Doha, têm interesse em mostrar que não querem o fim das negociações e defendem seu retorno o quanto antes.

A embaixadora americana afirmou que Brasil e Estados Unidos devem ter uma posição semelhante e que não há "um cenário em que um vai ganhar e o outro vai perder". Ponderou, contudo, que nem ela nem Amorim poderão solucionar, isoladamente, a Rodada Doha.

Questionada se aos Estados Unidos interessaria que o Brasil procurasse influenciar a Índia para abrir seu mercado agrícola, a representante limitou-se a comentar o papel de liderança que o País exerce no G-20.

Susan reiterou que os Estados Unidos estão preparados "para cortar mais (subsídios) se tivermos mais acesso a mercados, por exemplo" e indicou, ainda, que caso a rodada fracasse, o Brasil também perderia as ofertas que estão colocadas na mesa.

Sobre a ameaça feita pelo senador republicano Chuck Grassley de retirar Brasil e Índia do Sistema Geral de Preferências (SGP), ela explicou que o governo americano não decidiu nada sobre mudanças no sistema e afirmou que conversará com o congressista quando retornar ao País.