Título: Peru quer sociedade com Petrobrás
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2006, Economia, p. B5

O presidente do Peru, Alan García, pediu ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a Petrobrás se torne sócia da PetroPeru. A informação foi dada pelo governador do Acre, Jorge Viana (PT), que participou do encontro entre os dois presidentes, no palácio de governo, em Lima, após a posse de García.

Segundo Viana, o presidente peruano disse a Lula que o Peru precisa de colaboração da Petrobrás para adquirir know-how que permita ampliar a exploração de petróleo e gás naquele país.

O governador informou ainda que os presidentes acertaram um encontro entre representantes da Petrobrás e da PetroPeru, em no máximo 15 dias, para discutir a parceria. Antes de decolar do Peru, Lula ligou para o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, para pedir aceleração nas negociações entre as duas empresas.

Para Viana, ao pedir apoio à Petrobrás, propondo parceria para que ela atue no Peru, Alan García, acaba fazendo "um contraponto" à atitude adotada pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, que, ao assumir o governo, mandou a polícia ocupar as refinarias da estatal brasileira. "Diferentemente do presidente da Bolívia, García assumiu pedindo investimentos de empresários estrangeiros e agradecendo aos investimentos já feitos", disse.

Alan García pediu apoio ao presidente brasileiro. "Quero a Petrobrás aqui como sócia, como condutora dos negócios, conduzindo toda a parte de política, de exploração e comércio de petróleo e gás", disse o peruano, conforme relato de Viana.

Também participou do encontro o empresário brasileiro Jorge Gerdau, que acaba de comprar uma empresa siderúrgica no Peru. García pediu ainda a Lula que incentive as empresas brasileiras a investirem no país. A construtora Odebrecht também está trabalhando no Peru na construção da rodovia transoceânica.

Outro assunto discutido foi a possibilidade de acabar com as tarifas aeroportuárias entre Brasil e Peru. Viana informou que a passagem aérea entre Rio Branco e Puerto Maldonado, no Peru, trecho de 40 minutos, custa US$ 60 e a tarifa aeroportuária, US$ 30. "Isso inviabiliza o transporte na região."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o preço do gás que o Brasil importa da Bolívia deve ser "negociado e não imposto", segundo a edição eletrônica do jornal peruano 'La República'.

Lula declarou que essa é a missão da Petrobrás e da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). O presidente brasileiro disse ter "confiança de que prevalecerá o interesse maior dos dois países em cooperar, pois se o Brasil depende do gás boliviano, a Bolívia depende do mercado consumidor brasileiro".

A nacionalização das filiais da Petrobrás na Bolívia, autorizada pelo presidente Evo Morales, afetou as relações dos dois países nos últimos meses.

O presidente brasileiro, que estava no Peru para participar da cerimônia de posse do presidente Alan García, declarou que a "Bolívia vai necessitar de todos os investimentos para desenvolver seu potencial energético e levar benefícios à toda população". "A Petrobrás tem feito a sua parte, investindo mais de US$ 1 bilhão nos últimos 10 anos, inclusive estando disposta a fazer novos investimentos desde que os contratos sejam garantidos e respeitados."

Evo também estava presente na cerimômia, mas não se reuniu com Lula.