Título: Sistema solar pode crescer de 9 para 12 planetas - e até mais
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Vida&, p. A24
As aulas de geografia podem mudar no quesito astronomia a partir da próxima semana, quando os 2.500 membros da União Astronômica Internacional (IAU) votam uma nova definição de planeta. Se aprovada, o sistema solar como é conhecido hoje, com nove membros, ganhará três novos integrantes.
Os candidatos são Ceres, asteróide situado entre Marte e Júpiter; Caronte, mais companheiro do que satélite de Plutão; e 2003 UB313 - ainda sem nome oficial, mas apelidado de Xena por seu descobridor, que o achou para lá de Plutão, a impressionantes 14,4 bilhões de quilômetros do Sol (a Terra fica a 150 milhões de quilômetros).
A proposta será apresentada hoje na Assembléia Geral da IAU, que acontece em Praga, na República Checa. Ela é resultado de dois anos de debates do comitê executivo da organização. A votação acontece daqui a uma semana, ao final do encontro, depois de dois dias de discussões. A expectativa é que seja aprovada por pelo menos dois terços dos presentes.
Segundo Neil deGrasse Tyson, do Museu Americano de História Natural de Nova York, "pela primeira vez desde os gregos antigos tem-se uma definição sem ambigüidades".
Até hoje, em teoria, entendia-se como planeta qualquer objeto que se movesse no céu em relação a um ponto, como uma estrela. Na prática, qualquer corpo mais ou menos esférico, com pelo menos (não obrigatoriamente) 2 mil quilômetros de diâmetro, sem luz própria e orbitando ao redor de uma estrela era um planeta.
A definição é aberta o suficiente para incluir asteróides vitaminados no grupo, o que obrigava a classe a decidir caso a caso. Foi o que aconteceu com Ceres, que chegou a ser classificado como planeta quando descoberto, em 1801, para depois voltar à condição de asteróide.
A dúvida tem mão dupla: o status de Plutão começou a ser questionado quando os astrônomos encontraram objetos que também cumpriam as exigências previstas para um planeta dentro do Cinturão de Kuiper - conjunto de asteróides na borda do sistema solar dentro do qual está Plutão. Xena e Caronte são exemplos disso. Seu status de asteróide passou a ser posto em xeque quando foram identificadas semelhanças deles com Plutão.
MUDANÇAS A proposta do comitê usa parâmetros mais detalhados e se baseia nas propriedades físicas do objeto, incluindo massa mínima para que sua própria gravidade o deixe com uma forma quase esférica e órbita ao redor de uma estrela - sem ser ele próprio uma estrela. A idéia apenas reflete o refinamento dos instrumentos de observação. É ainda ampla o suficiente para abarcar os asteróides grandalhões.
O sistema solar seria então formado, em ordem a partir do Sol, por oito "planetas clássicos" (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno) e três novos: Plutão e Caronte (num sistema duplo) e o 2003 UB313.
Outra novidade é a invenção de uma categoria chamada de "plútons". Eles seguem a mesma definição do planeta clássico com algo a mais: órbitas mais longas, inclinadas e não-circulares. Ela se baseia em Plutão, que seria um planeta ao mesmo tempo que um plúton. E abre espaço para que outros corpos que cumprem as exigências se encaixem no perfil. Há pelo menos doze na fila e outros tantos podem entrar com o avanço da ciência.
MAPA ASTRAL Astrólogos e estudantes devem ser os mais afetados pela mudança. O mapa astral terá de ser modificado. A mnemônica "minha velha, traga meu jantar: sopa, uva, nozes e pão", usada pelos alunos para decorar a ordem dos planetas, terá de ser adaptada, assim como enciclopédias, sites e outras fontes de divulgação científica.
Para os astrônomos, trata-se de uma mera questão de nomenclatura. Quem trabalha com planetas já usa categorias mais detalhadas, como "objetos transnetunianos" para definir os corpos que se encontram além de Netun o.
"O impacto será sentido mesmo na sala de aula. Será preciso atualizar os livros didáticos", diz Gastão Bierrenbach Lima Neto , do Instituto de Astronomia da Universidade de São Paulo.