Título: Israelenses voltam e encontram destruição
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Internacional, p. A19

Até quem olha de longe o prédio mais alto de Kiryat Shmona percebe um rombo na parede, entre o 6º e 7º andares. O buraco foi deixado por um dos foguetes Katyusha da guerrilha xiita Hezbollah que caíram na cidade, a 8 quilômetros da fronteira com o Líbano. Kiryat Shmona foi o local mais atingido pelos Katyushas nos 34 dias de confronto entre Israel e o Hezbollah.

Foram cerca de 1.100 foguetes, quase um quarto do total de 3.900 que caíram no norte de Israel. Dois dias depois do começo do cessar-fogo, milhares de moradores, que fugiram durante a guerra, começam a voltar.

Pelas ruas, moradores perambulam, checando o que sobrou das ruas, casas e edifícios. Carros com famílias inteiras fazem fila para entrar na cidade, que foi invadida por jornalistas de todo o mundo e por soldados em folga. Comboios de veículos militares, que rumam em direção ao sul, levantam poeira.

Para muitos, o retorno é amargo. É o caso da secretária Chava Mendelevitz, de 49 anos, que passou boa parte do tempo refugiada em casas de amigos ou escondida em abrigos antiaéreos. Ela não acreditou ao ver seu apartamento praticamente destruído pelo foguete que atingiu o prédio mais alto de Kiryat Shmona. "Justamente na minha casa?", se perguntou a secretária, que passou o dia de ontem implorando assistência da prefeitura. "Preciso pelo menos de um lugar para dormir. A casa dos meus pais, aqui na esquina, também levou Katyusha. Não tenho para onde ir."

Mais de 600 construções foram danificadas, só em Kiryat Shmona. Na prefeitura, a fila de desabrigados é extensa. E vai aumentar. Cerca de 80% dos 25 mil moradores fugiram durante a guerra. E nem todos voltaram ainda, por medo do fracasso do cessar-fogo. "Duvido que tenhamos paz. Moro aqui há 11 anos e a cidade sempre é atacada pelo Hezbollah. Nada vai mudar", opinou Chava.

Na casa do eletricista Moris Maman, de 51 anos, a situação era pior do que ele havia imaginado. Além da desolação dentro de casa, o foguete acabou com sua fonte de renda: a van com todo o material elétrico que ele usava para consertar geladeiras e aparelhos de ar-condicionado. O cheiro de queimado é forte, apesar de o ataque ter acontecido domingo, horas antes do cessar-fogo. Pela casa, a filha Sharon, de 15 anos, andava de um lado para o outro tentando esconder as lágrimas. Do quarto dela, não sobrou nada.