Título: Lula culpa sistema por corrupção
Autor: Patrícia Villalba
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Nacional, p. A8

Em pouco mais de sete minutos de competência técnica que lembra os tempos de Duda Mendonça , o programa de estréia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no horário eleitoral aproveitou os indicadores econômicos favoráveis para dizer que o País ficou melhor nos últimos quatro anos.

Adotando linha otimista, o candidato à reeleição se afastou deliberadamente de temas delicados como o escândalo do mensalão. Quando entrou no assunto, repetiu a estratégia de tentar pulverizar a culpa, já adotada antes da campanha eletrônica. "Não se engane, a crise ética que atingiu os partidos é uma crise de todo o sistema político. Os que cometeram erros precisam ser punidos", afirmou Lula.

A retórica, no entanto, não impediu que no espaço destinado aos candidatos a deputado federal pelo partido do presidente aparecessem, pedindo votos, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci - ainda envolvido em denúncias e dizendo que fez "o que poderia ter feito no ministério" - e a deputada Angela Guadagnin - que ficou famosa por comemorar a impunidade de um colega petista com a "dança da pizza", no plenário da Câmara.

O PT quis logo de cara colar a tese de que a eleição de outubro nada mais é do que um plebiscito, que vai dar um sim ou um não ao presidente Lula. O programa pareceu preocupado em marcar uma questão: é melhor avançar rapidamente ou recomeçar do zero "como querem alguns candidatos"?

IMAGEM Para ajudar nessa escolha, as imagens do horário eleitoral petista tentaram explorar a grande identificação que os mais pobres têm mostrado até aqui com o presidente, segundo as pesquisas de opinião. O programa fez ligação entre fotos antigas de Lula, como garoto pobre, com imagens atuais do presidente.

Sintomaticamente, esse lado de sua biografia - que lembra o enredo do filme Dois Filhos de Francisco, do homem que cuja trajetória vai da miséria à glória - foi muito mais explorado do que o passado recente como sindicalista, antes sua principal credencial para seduzir um público mais metropolitano. Lula trocou de vez o "companheiros e companheiras" por um "amigos e amigas", decerto os "200 milhões de lulas" citados no jingle da campanha.