Título: Gabeira acusa Renan de ter quadrilha no PMDB
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Nacional, p. A6

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) afirmou ontem que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e seus aliados no PMDB fazem parte de uma "quadrilha". As críticas foram feitas por Gabeira em discurso durante reunião da CPI dos Sanguessugas, ao comemorar a aprovação, na semana passada, do relatório parcial que pede abertura de processo por quebra de decoro contra 72 parlamentares acusados de envolvimento com a máfia que vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras, a partir de emendas ao Orçamento da União.

Para Gabeira, Renan e "seu grupo" fazem parte dos "bolsões de resistência" ao funcionamento da CPI e tentaram boicotar os trabalhos. "A resistência principal nós quebramos: a do Renan e a de seu grupo, a quem chamo de quadrilha", afirmou Gabeira, logo antes de participar da entrega do relatório parcial da CPI ao próprio senador.

No caminho entre o plenário da CPI e o gabinete de Renan, Gabeira acrescentou que, na sua opinião, a quadrilha do PMDB era integrada ainda pelo senador Wellington Salgado (MG), novo líder da bancada do partido no Senado, e Romero Jucá (RR), entre outros.

DEFESA "Demonstrei em todos os momentos total isenção e absoluto equilíbrio. Não só na CPI, mas em todas as investigações", respondeu Renan. Ele preferiu, porém, não reagir à acusação de que integraria uma quadrilha. "Não dá para responder a esse tipo de pergunta."

Essa não foi a primeira vez que Gabeira fez críticas contundentes a Renan. No fim de maio, eles protagonizaram um bate-boca sobre a abertura da CPI, durante sessão do Congresso. Renan havia decidido arquivar o pedido de abertura da comissão. Gabeira recomeçou, então, a colher assinaturas.

Na semana passada, o deputado do PV se desentendeu com Salgado, escalado pelo PMDB para defender o senador Ney Suassuna (PB) - um dos 72 acusados no escândalo das ambulâncias e líder licenciado do partido. Gabeira também discutiu com o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Roberto Amaral (PSB), depois de acusar o seu partido de aparelhar a pasta e favorecer acusados.

PRESSA Renan decidiu ontem enviar diretamente ao Conselho de Ética os casos dos três senadores denunciados pela CPI, para não deixar o destino de Suassuna nas mãos do PFL. Além do líder licenciado do PMDB, foram acusados Magno Malta (PL-ES) e Serys Slhessarenko (PT-MT).

A cúpula governista do PMDB, que tem à frente o presidente do Senado, suspeita que a oposição esteja aproveitando o escândalo para enfraquecer o grupo. É isso, não a pressa em concluir os processos, que explica a decisão de "queimar" a etapa da Corregedoria do Senado.

O corregedor é o pefelista Romeu Tuma (SP), que, no primeiro momento, não disfarçou seu descontentamento e reclamou.

Renan chamou o corregedor para uma conversa e o convenceu de que a alternativa dá mais agilidade ao julgamento e não o exclui da investigação. Àquela altura, o presidente do Conselho de Ética, João Alberto de Souza (PMDB-MA), estava orientado a retornar para Brasília. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO), vice-presidente do colegiado, ameaçava assumir o conselho e tocar os processos por quebra de decoro.