Título: Investimento das indústrias neste ano poderá chegar a R$ 21,5 bilhões
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Economia, p. B1

O investimento produtivo na indústria brasileira voltou a crescer este ano. Mais da metade das empresas (53,6%) pretende aumentar os gastos em novas fábricas, compra de máquinas e equipamentos para ampliar a capacidade de produção em relação ao que foi investido no ano passado.

O setor de bens intermediários, isto é, as fábricas que produzem insumos para serem agregados à produção de outras indústrias, registra o maior índice de crescimento do investimento em 2006.

Isso é o que revela a 160ª Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com a pesquisa, que ouviu 642 empresas durante o mês passado, essas companhias planejam investir o total de R$ 21,5 bilhões em 2006. Isso representa um acréscimo de 19,7% em relação a 2005. No ano passado, as mesmas indústrias aplicaram R$ 17,9 bilhões no aumento da capacidade de produção, a cifra mais baixa da década.

Quando se avalia a relação entre o investimento e as vendas das 642 companhias, o índice previsto para este ano é 7%. Em 2005, esse indicador foi menor, de 6,1% para essas mesmas empresas. "Há maior ímpeto das indústrias para investir este ano comparativamente a 2005", afirma o coordenador da pesquisa, Aloisio Campelo Jr., enfatizando que a economia está em recuperação.

A retomada do investimento é confirmada quando se analisa uma série histórica mais longa da Sondagem da FGV, desde 2000, que leva em conta um número bem maior de empresas na relação investimento/vendas. Nessa série, o indicador é 7,29% para o conjunto de todas as indústrias em 2006, o que revela um crescimento significativo na comparação com o índice registrado no ano anterior, que foi de 5,9%, o segundo menor da década.

Campelo Jr. observa que essa série histórica deixa claro que o investimento na indústria voltou a crescer em ritmo mais acelerado neste ano, mas ele pondera que o nível ainda está abaixo dos melhores anos da década, que foram 2004 (9,97%), 2003 (9,92%) e até mesmo 2001, o ano do racionamento de energia, quando o indicador investimento/venda foi de 8,37% para indústria como um todo.

INTERMEDIÁRIOS O economista destaca que a maior expansão do investimento na capacidade de produção ocorre neste ano nas indústrias de bens intermediários. De acordo com a sondagem, na relação entre o investimento e as vendas, esse indicador é 9,3% para os bens intermediários, muito acima da média da indústria. Em 2005, a relação entre investimento e vendas para os bens intermediários foi de 8,1%

Campelo Jr. explica que as indústrias de bens intermediários estão estimuladas pela maior demanda internacional, da China, especialmente, e pelos preços ascendentes das commodities no mercado internacional. Além disso, são exatamente esses setores que estão hoje trabalhando a todo vapor.

Segundo a sondagem, essas fábricas atualmente ocupam as suas instalações produtivas muito acima da média histórica dos últimos dez anos. Entre esses segmentos estão as metalúrgicas, as indústrias de minerais não metálicos, celulose, papel e papelão e indústria mecânica, entre outros.

De certa forma, o investimento produtivo expressivo nas fábricas de bens intermediários é tranqüilizador. Isso porque, quando a economia retoma a rota do crescimento, os gargalos na produção e as pressões de custos se concentram nesse setor.

A pesquisa mostra também aumento, ainda que mais moderado, na perspectiva de investimento para os fabricantes de bens de consumo e materiais de construção. Neste ano, o índice de investimentos em relação às vendas das indústrias de bens de consumo é de 5,2%, ante 4,3% em 2005. No caso dos materiais de construção, esse indicador atualmente está em 5,3%. No ano passado, era de 4,6%.

Já os fabricantes de bens de capital mantêm para este ano as projeções de investimentos. Levando-se em conta o indicador do investimento em relação às vendas, as indústrias do setor ficam estacionadas no índice de 3,1%.

"Esse é o único setor em que não houve alteração no investimento", afirma Campelo Jr. Na sua análise, isso reflete que, nos bens de capital, os investimentos que estão ocorrendo são realizados por meio de importações, por causa da valorização do real em relação ao dólar.