Título: 'Dinheiro tem de queimar nas mãos dos banqueiros'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Economia, p. B3

A queda dos spreads bancários no Brasil e, por conseqüência, dos juros nos empréstimos, só ocorrerá com a redução das exigências de capital feitas aos bancos e o aumento do mercado de securitização dos créditos. Essa é a opinião do economista e ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu Gomes.

Para ele, a reestruturação do sistema financeiro após o Plano Real levou a uma exigência de capitalização excessiva dos bancos, que passaram a privilegiar posições em títulos públicos federais, em detrimento da operação de crédito.

Em palestra no seminário Simplificando o Brasil, promovido pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), Gomes disse que a norma que prevê o provisionamento para créditos duvidosos ex-anti, por exemplo, determina a manutenção de um nível de capital para os bancos que, por sua vez, o direcionam para os títulos públicos.

"Não adianta vir com medidas pontuais, como cadastro positivo, porque o spread não vai melhorar enquanto o dinheiro não queimar nas mãos dos bancos", diz Gomes. "Hoje, temos um sistema bancário altamente capitalizado e quanto maior a capitalização - num regime onde a concorrência é baixa - mais altos serão os spreads."

Para o economista, os depósitos compulsórios, a carga tributária sobre operações financeiras e a superposição dos papéis desempenhados pelos bancos federais têm influência pesada no custo do crédito no Brasil.