Título: Petrobrás admite defasagem de 11,6% no preço de combustíveis
Autor: Nicola Pamplona, Teresa Navarro
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2006, Economia, p. B4

O diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, reconheceu ontem que existe uma defasagem entre os preços dos combustíveis no Brasil e os valores dos Estados Unidos, mercado que baliza as cotações internacionais dos derivados de petróleo. O executivo frisou, porém, que a companhia não vai alterar sua política de reajustes, que prevê o acompanhamento no longo prazo das cotações internacionais, sem o repasse de "pressões pontuais".

Segundo dados da empresa, o preço médio dos derivados no Brasil no segundo trimestre ficou em US$ 70,7 por barril, enquanto nos Estados Unidos o valor de venda dos mesmos produtos chegou a US$ 80, em média, o que dá uma diferença de 11,6%. A conta inclui o preço médio de todos os produtos vendidos pela companhia, como gasolina, diesel, gás de cozinha, querosene de aviação, óleo combustível e nafta.

A comparação com os números do início do ano dá uma idéia de como a situação se deteriorou nos últimos meses: no primeiro trimestre, o preço da cesta de produtos da Petrobrás era de US$ 70,2 por barril, apenas US$ 0,80 abaixo de sua equivalente americana. O aumento da diferença reflete, segundo analistas, a manutenção dos preços da gasolina e do diesel, que representam cerca de 40% das vendas da estatal.

A defasagem dos preços foi uma das maiores críticas dos investidores com relação ao balanço do semestre, quando a empresa lucrou R$ 13,7 bilhões. Para a Merril Lynch, foi a principal causa da redução de 20% no lucro da área de abastecimento da companhia, que comprou petróleo mais caro sem repassar integralmente o aumento de custos ao produto final.

De fato, Barbassa informou que o aumento de custos, que inclui importações e compra de petróleo mais caro, teve efeito negativo de R$ 748 milhões no resultado do segmento, enquanto os reajustes promovidos em alguns derivados contribuiu positivamente com apenas R$ 441 milhões. A área de abastecimento fechou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 2,486 bilhões.

Segundo cálculos de bancos de investimento, a diferença nos preços da gasolina e do diesel pode chegar a 20%, o que justificaria um reajuste imediato. "A Petrobrás está deixando de capturar todo o momento positivo do mercado internacional", afirmou o analista de petróleo da corretora Ágora Sênior, Luiz Otávio Broad, que acredita em aumentos no fim do ano. O último reajuste da gasolina e do diesel é de setembro de 2005.

PRESSÕES PONTUAIS Em conferência com analistas financeiros, Barbassa disse que o mercado de petróleo está pressionado por fatores pontuais, como o conflito no Oriente Médio e o verão nos Estados Unidos, período em que o consumo de gasolina dispara, puxando os preços para cima. Ele disse que, após o cessar-fogo no Líbano, as cotações já começam a ceder e que a empresa vai esperar a configuração de um novo patamar para decidir por reajustes.

"Nossa política de preços está muito clara e será mantida. O objetivo é não repassar a volatilidade externa do petróleo", afirmou. A empresa ainda tem a vantagem de utilizar, em suas refinarias, 80% de petróleo brasileiro, mais barato do que o importado, o que garante uma margem de refino mesmo sem o acompanhamento de perto do mercado internacional.

No segundo trimestre, o petróleo nacional custou, em média, US$ 58,20 por barril, ante os US$ 69,6 cobrados pelo petróleo tipo Brent. Desde junho, quando os números foram fechados, porém, as cotações internacionais subiram acima dos US$ 75, o que reforça a expectativa de reajustes ainda este ano.