Título: Governo vai economizar R$ 78,2 bi em 1 ano com redução dos juros
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2006, Economia, p. B6

O ciclo de redução da taxa básica da economia (Selic), iniciado em setembro do ano passado, vai render ao Tesouro Nacional uma economia de R$ 78,21 bilhões com o pagamento de juros da dívida pública no período de um ano. O cálculo da agência de classificação de risco Austin Rating considera só mais uma redução da Selic na reunião desta semana, da ordem de 0,50 ponto porcentual. Há quem aposte em novo corte, na mesma proporção, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto. Seria mais dinheiro para os cofres públicos.

De setembro de 2005 até maio deste ano, os juros nominais caíram 4,50 pontos porcentuais, de 19,75% para 15,25% ao ano. Se as expectativas do mercado financeiro se confirmarem esta semana, a taxa cairá abaixo de 15% pela primeira vez desde março de 1975, quando estava em 13,6% ao ano, observa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Segundo ele, o fato por si só exigirá mais cuidado do Banco Central (BC) em relação a novos cortes. O BC está entrando num terreno desconhecido, segundo ele, já que o juro está no menor patamar dos últimos 31 anos. "Não se sabe qual o efeito dos cortes na economia."

NO TOPO Apesar disso, o juro real brasileiro (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) continuará no topo dos maiores do mundo, acima de 10% ao ano, conforme dados da UpTrend Consultoria Econômica. Segundo Jason Vieira, economista-chefe da empresa, isso é resultado de uma taxa nominal ainda extremamente elevada e índices de inflação reduzidos, em torno de 3,8% ao ano. Ao contrário do que ocorre com a Turquia, onde taxa nominal (em 17,25% ao ano) e indicadores de preços (acima de 8%) estão altos.

Para os analistas, os números da economia brasileira dão condições para o BC ser mais agressivo, a ponto de a taxa Selic terminar o ano abaixo de 14%. Poucos, no entanto, acreditam que se abandone o conservadorismo que tem marcado as reunião do Copom.

A grande preocupação dos integrantes do Copom é errar a mão na redução da Selic e trazer de volta o pesadelo da inflação, com o aumento da demanda. Para o economista da LCA Consultores Ricardo Vieira, esse risco está distante, já que a inflação está comportada, abaixo da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Um fator que contribui para esse controle é o dólar, também em níveis baixos (R$ 2,21 na sexta-feira).

Vieira reconhece que o BC está preocupado com 2007. Um dos fatores que podem estragar a festa brasileira é a escalada do preço do petróleo, próximo de US$ 80 o barril. Isso faz crescer as preocupações mundiais com a inflação, o que significaria aumento dos juros no mundo, especialmente nos EUA. Por outro lado, o avanço do preço do petróleo pode derrubar a renda da população para consumir outros produtos, avalia a economista da Tendências Consultoria Integrada Alessandra Ribeiro.

A proximidade das eleições também deve pesar nas decisões do Copom. Alguns analistas apostam em mais um corte da Selic em agosto e outros somente depois das eleições. No mês que vem o mercado saberá se o BC continuará reduzindo a Selic ou se fará uma parada.