Título: Calderón vence contagem inicial, mas López Obrador contesta
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2006, Internacional, p. A12
O conservador Felipe Calderón, de 43 anos, do Partido de Ação Nacional (PAN), ganhou, mas ainda não levou, as eleições presidenciais de domingo no México. Ele terá de esperar pelo menos um par de dias até que a contagem oficial a ser iniciada amanhã pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE) confirme ou não a apertadíssima vitória obtida na apuração preliminar. Computados 98,45% dos votos nas mais de 130 mil seções, Calderón tinha 36,38% e seu principal rival, o esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do Partido Revolucionário Democrático (PRD), estava com 35,34% - uma diferença de 402.708 votos, pouco mais de 1 ponto porcentual. Roberto Madrazo, do Partido Revolucionário Institucional (PRI), legenda que mandou no México por sete décadas, tinha 21,57%.
Na eleição de 168 senadores e 500 deputados, o PAN torna-se a maior força, seguido de perto pelo PRD e o PRI.
Calderón e López Obrador agravaram a já dramática situação criada pela acirrada disputa proclamando-se vencedores, na noite de domingo. Desrespeitaram não só um acordo firmado em junho, no qual se comprometeram a aceitar apenas os resultados proclamados pelo IFE, mas também ignoraram o pedido que o presidente desse instituto, Luiz Carlos Ugalde, fez a candidatos e partidos para não se pronunciarem sobre os resultados, após informar que os dados preliminares não permitiam apontar o vencedor, com base em uma amostragem nacional de mais de 7.600 seções.
Ontem à noite, López Obrador disse haver irregularidades na apuração inicial e anunciou que contestará o resultado na Justiça: "Temos um compromisso com os cidadãos para defender a vontade de milhões de mexicanos e usaremos todos os meios legais para isso."
Apesar da crise eleitoral, não havia sinais de tensão ou intranqüilidade ontem na capital. A despeito do comportamento dos políticos, os mexicanos parecem prontos a acatar o resultado a ser anunciado pelo IFE. A bolsa de valores registrou ligeira alta e vários executivos das finanças e da indústria descartaram o risco de a indefinição da eleição criar instabilidade para a economia.
Qualquer que seja o desfecho, o novo presidente será politicamente fraco: assumirá com apoio de apenas 36% dos menos de 40 milhões de eleitores (do total de 71 milhões) que se deram ao trabalho de votar. Sem apoio claro das urnas, não terá, tampouco, apoio no Congresso, que seguirá dividido entre o PAN, o PRD e o PRI, em bancadas de tamanhos equivalentes e sempre dispostas a juntarem-se, duas contra uma, para travar o governo. Foi o que ocorreu com o atual presidente, Vicente Fox, do PAN.
A tabulação definitiva dos votos começa amanhã. Ela não consiste na recontagem de todos os votos, mas num exame cuidadoso das atas de cada urna, para verificar se as somas dos votos dados foram feitas corretamente, correspondem ao número total de sufrágios e os totais são os mesmos que foram reportados, registrados e divulgados pelo IFE.
"Serão recontadas as urnas nas quais houver discrepância", disse Álvaro Sánchez, um dos 12 conselheiros do instituto. "Não há empate técnico. O que recebeu o maior número de votos será declarado ganhador, qualquer que seja a diferença."
O IFE tem até sábado para comunicar o resultado oficial ao tribunal eleitoral. Embora tenham mantido o apoio ao instituto e afirmado a lisura do pleito, observadores internacionais criticaram a decisão do instituto eleitoral de não divulgar os dados que tinha. "Isso abriu espaço para os candidatos proclamarem a vitória", disse um observador europeu.