Título: Esgoto a céu aberto causa problemas de saúde em SP
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2006, Vida&, p. A15

Diarréias, febres e alergias são sintomas comuns entre as crianças que moram nos barracos ao lado do Córrego da Bicicleta, na Favela da Funerária, zona norte de São Paulo. Correndo atrás das pipas ou brincando nas margens do córrego, o contato com a água imunda é inevitável.

O mau cheiro e os ratos incomodam e, nos dias de calor, a situação fica ainda pior. Os moradores contam que nesses dias os ratos saem do córrego e andam livremente pelos montes de lixo acumulados pela rua.

O filho de Damiana Maria da Conceição, C.G.S., de 7 anos, sofre de uma alergia constante. Apesar de a mãe não deixar o garoto brincar com as outras crianças na beira da água, suas pernas e braços têm feridas que não saram. "Só pode ser por causa do rio, porque ele não melhora nunca", conta.

Damiana é dona de um pequeno bar ao lado do Córrego da Bicicleta. Moradora da favela há 25 anos, conta que há pouco tempo a situação era ainda pior. Até janeiro deste ano, existia sobre a água uma série de palafitas, destruídas por um incêndio. "Quando chovia, os barracos em cima do rio ficavam cheios de água", diz. "Era normal a criançada que mora aqui ter febre e diarréia."

Não só as crianças sofrem com a sujeira. Paralisado por um derrame, o aposentado José Miguel da Silva, de 62 anos, teve o cômodo em que mora invadido pela água em abril, quando o córrego transbordou. O contato com a água suja inflamou as feridas em sua perna. Hoje, ele conta com a ajuda das enfermeiras do posto de saúde do Parque Novo Mundo para fazer os curativos.

Desempregado há seis meses, Carlos Roberto Pereira paga R$ 150 de aluguel no quarto que divide com um colega. Como na maioria dos barracos, o esgoto de sua casa vai direto para o córrego. "Isso aqui faz mal para qualquer pessoa", diz. "Só moro aqui porque não tenho condições de ir para outro lugar."