Título: Comércio exterior forte
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2006, Economia, p. B2

Os resultados da balança comercial de junho foram bem mais robustos do que o esperado. As exportações foram recorde: US$ 11,4 bilhões. E o superávit (exportações acima das importações) ultrapassou os US$ 4 bilhões, também recorde para meses de junho.

Mas não fiquemos apenas com os dados do mês, que podem estar distorcidos por fatores sazonais ou aleatórios.

Tomados os números do primeiro semestre, já dá para se ter uma idéia melhor do impacto sobre o comércio exterior provocado por esse dólar mais barato em reais e sobre o esticão dos preços do petróleo. São três as principais observações a fazer.

Primeira observação - Em seis meses, as exportações cresceram muito menos (13,5%) do que as importações (21,6%). As exportações estão evoluindo menos em conseqüência da valorização do real e do aumento dos custos de produção dos bens exportáveis (derivados de petróleo muito mais caros).

Já as importações parecem mais aquecidas graças ao maior crescimento do PIB brasileiro e ao aumento do componente importado no produto nacional, tanto o destinado ao mercado interno quanto às exportações.

Não se confirmou o que os analistas mais temiam: o despencamento das exportações como resultado da valorização do real diante do dólar. Elas continuam crescendo mais do que o próprio comércio mundial (9,1%). Estudo da Consultoria MCM divulgado ontem pelo jornal Valor mostrou que a maior parte dos exportadores continua ganhando dinheiro, mesmo com o dólar na casa dos R$ 2,20.

Segunda observação - A exportação de manufaturados é, em princípio, a mais sensível a variações de câmbio. Quando cai a cotação do dólar no câmbio interno, fica muito mais difícil exportar porque o produto fica mais caro em dólares. No entanto, no primeiro semestre deste ano, quando o real mais se valorizou, as exportações de máquinas e aparelhos para terraplanagem cresceram 29,6%; veículos de carga, 27,7%; motores para automóveis, 22,7%; autopeças, 18,8%; e aviões, 18,4%.

Como as importações de produtos intermediários cresceu 13,2% em seis meses, não é difícil imaginar que parte da alta dos preços em dólares foi compensada por aumento de peças e materiais importados no produto final de exportação. É um pouco da síndrome Embraer (que importa cerca de 75% dos componentes dos seus aviões) que se estende ao resto da indústria.

Terceira observação - Aumentou a participação dos bens de capital (máquinas e equipamentos) no total das importações (subiu de 20,7% no primeiro semestre de 2005 para 21,4% em 2006). E se forem tomados os valores absolutos, verifica-se que as importações desse item cresceram 25,8%.

Isso comprova que o setor produtivo está aumentando substancialmente seus investimentos. Na semana passada outros números, dessa vez do IBGE, tinham revelado que, no primeiro trimestre de 2006, os investimentos evoluíram 20,4%, o maior crescimento desde 2001.

Como investimento hoje é mais produção amanhã, vai pintando mais aumento do PIB em 2006, como ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez questão de antecipar.