Título: Governador do Piauí sabia que licitação seria direcionada, diz empresário
Autor: Expedito Filho e Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Nacional, p. A4

O empresário Ronildo Pereira, integrante da máfia dos sanguessugas, agravou a situação de governadores petistas já citados por outros integrantes do esquema. Segundo depoimento de Ronildo, que agia em parceria com a família Vedoin, dona da Planam, o governador do Piauí, Wellington Dias, participou de uma reunião com integrantes do esquema que tratou da aplicação de recursos acima de R$ 10 milhões para a compra de ambulâncias e equipamentos médicos. O empresário afirmou que Dias "tinha conhecimento de que a licitação seria direcionada". O empresário aponta, ainda, um fato novo: um intermediário teria apresentado os empresários do esquema ao secretário de Finanças de Campinas, cidade administrada por Hélio de Oliveira, do PDT. Ele ainda detalha um acordo fracassado com o governo de Mato Grosso do Sul, comandado por Zeca do PT.

Ronildo contou à Justiça Federal que o esquema chegou a Wellington Dias pelas mãos de José Caubi Diniz, intermediário de José Airton Cirilo, integrante do Diretório Nacional do PT e ex-presidente do partido no Ceará. Segundo Ronildo, nas negociações realizadas por Cirilo e seus intermediários para liberação de recursos do Ministério da Saúde para pagamento de ambulâncias, "a pessoa de contato" era Antônio Alves, ex-chefe de gabinete do então ministro Humberto Costa.

Pela versão de Ronildo, foi Diniz quem levou os Vedoin para acertar os detalhes sobre o direcionamento das licitações para compra de medicamentos em Campinas. Segundo ele, o grupo tratou diretamente com o secretário de Finanças e a reunião não teria sido de "consulta", mas uma comunicação de que os Vedoin realizariam a venda de medicamentos ao município.

O esquema teria chegado a criar uma empresa, chamada Romed, e, segundo ele, Diniz teria cobrado 20% sobre o valor das vendas como comissão. Na época, o suposto intermediário de José Aírton Cirilo disse, conforme o depoimento, que tinha sido caixa da campanha do prefeito de Campinas, "tendo inclusive injetado cerca de R$ 8 milhões através do banco Schaim". Na versão de Ronildo, Diniz falou mais: contou que estaria montando uma factoring na cidade de São Paulo.

O empresário afirma que participou em 2003 de uma reunião com o secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, Estado comandado por outro petista, Zeca do PT, para negociar recursos em favor do esquema. No encontro, "tudo ficou acertado sobre a elaboração dos projetos e o direcionamento da licitação", mas os recursos acabaram não saindo.

No caso de Mato Grosso do Sul, a negociação envolvia R$ 5 milhões. Já Darci Vedoin discorda do valor - afirma que seriam R$ 10 milhões destinados ao Estado -, mas confirma a reunião. Ambos contam que um integrante do esquema permaneceu por dias nas dependências da Secretaria de Saúde elaborando os projetos que seriam contemplados com recursos. Darci Vedoin informou que o projeto não foi adiante.