Título: Fidel avisa: está com bom ânimo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Internacional, p. A13

Após um período de quase 24 horas sem nenhuma informação sobre a cirurgia do líder cubano, Fidel Castro, a TV estatal divulgou no começo da noite de ontem um comunicado assinado pelo próprio líder, no qual ele se dizia "estável" e com "bom ânimo", mas acrescentou que só com o passar dos dias poderia ter certeza sobre a evolução de seu estado de saúde.

"Posso dizer que é uma situação estável, mas uma avaliação geral do estado de saúde precisa de mais tempo. O que mais posso dizer é que essa situação permanecerá estável por muitos dias, até que se possa ter um veredicto", dizia o comunicado. "De ânimo, me encontro perfeitamente bem, e o mais importante é que no país tudo marcha e marchará perfeitamente bem e está preparado para a defesa por suas Forças Armadas e seu povo", ressaltou Fidel, que completa 80 anos no dia 13.

Até a divulgação do comunicado, os meios de comunicação oficiais não tinham divulgado nenhuma informação sobre o estado de saúde do líder, que se submeteu a uma cirurgia para tratamento de uma hemorragia intestinal. A única menção sobre o tema foi feita pelo presidente do Parlamento cubano, Ricardo Alarcón, um dos políticos mais próximos de Fidel.

"O líder cubano está pronto para lutar como sempre até o último instante", declarou Alarcón à agência de notícias estatal Prensa Latina. "Mas esse instante ainda está bem longe", acrescentou.

Antes, um comunicado emitido pelo governo da Venezuela, do presidente Hugo Chávez - o principal aliado de Fidel atualmente -, indicava que o estado de saúde do líder cubano evoluía "positivamente". Em Hanói, onde realiza visita oficial ao Vietnã, Chávez limitou-se a declarar que, "de todo coração", deseja a "recuperação do presidente Fidel Castro no menor prazo possível".

Fidel anunciou na segunda-feira à noite que o esforço de viajar para a Argentina - onde participou da reunião do Mercosul, em Córdoba, no dia 21 - e para as celebrações do 26 de Julho, a data nacional cubana, no leste da ilha, causou um stress que provocou a crise intestinal aguda. Pela primeira vez desde que chegou o poder, há 47 anos, delegou as atribuições de governo para outro membro do regime - no caso, seu irmão, Raúl Castro, que não fez nenhuma aparição pública 24 horas depois de ter sido encarregado de exercer o poder.

Embora os líderes da oposição anticastrista de Miami tenham festejado a internação de Fidel e rumores sobre sua morte tenham circulado nos EUA, um porta-voz do Departamento de Estado informou que não havia nenhum elemento que sustentasse a tese de que o líder cubano havia morrido.

A Casa Branca também deu sinais de não acreditar em alterações significativas no regime sob a batuta de Raúl, ao antecipar que não pretende suavizar o embargo comercial que impõe à ilha. "A imposição de Raúl Castro significa a contínua negação do direito dos cubanos de escolher livremente seus líderes", informou o Departamento de Estado. "Assim, nossa política segue igual."