Título: Olmert tenta provar vitória
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Internacional, p. A16

Após duas semanas longe de câmeras e microfones, Ehud Olmert fez ontem seu segundo discurso à nação em apenas dois dias. Qual o motivo da repentina superexposição do primeiro-ministro israelense? Analistas políticos garantem que a resposta é simples: nervosismo.

Olmert estaria correndo contra o relógio para convencer o público israelense - e o mundo - de que Israel está se saindo vitorioso contra o Hezbollah. "Israel está vencendo essa batalha e tem conseguido ganhos impressionantes", afirmou ontem, na primeira frase do discurso no Instituto Militar Nacional.

Olmert não tem muito tempo. Pressionado pelos EUA a declarar um cessar-fogo definitivo nos próximos dias, o primeiro-ministro precisa preparar o terreno para que, assim que a guerra terminar, fique claro que Israel venceu. Até porque 43% dos israelenses, de acordo com uma pesquisa divulgada ontem, admitem não saber quem está levando vantagem no conflito. Da declaração de vitória israelense dependeria o futuro do equilíbrio de forças no Oriente Médio, além do futuro político do próprio Olmert, que almeja ser visto como um estadista a altura de ícones israelenses como David Ben Gurion.

"As aparições de Olmert justamente agora demonstram que está aflito e ansioso", disse Amnon Abramowitch, um dos analistas mais conhecidos do país. "Quando Israel claramente levava vantagem, ele ficou longe dos holofotes. Agora, aparece mais que o necessário."

Outro sinal de nervosismo seria o fato de Olmert ter mudado sua definição de vitória. Se nos primeiros dias do conflito, ele prometia desarmar totalmente o Hezbollah, agora parece se contentar com o afastamento da guerrilha da fronteira e o posicionamento de forças internacionais na região. "Nunca prometi ao povo que não haveria mais mísseis. A vitória não pode ser medida pelo número ou alcance dos foguetes lançados contra nós", afirmou ontem.

A missão de declarar vitória já era ingrata por um detalhe: para haver um vencedor, o outro lado deve admitir a derrota, o que, pelo menos agora, não passa pela cabeça do líder da guerrilha xiita, Hassan Nasrallah. "Essa multiplicação nas aparições públicas de Olmert parece uma corrida para ver quem cruza a reta final primeiro", ironizou o veterano apresentador de rádio Razi Barkaí.

Mas a declaração de triunfo israelense ficou ainda mais complicada após a tragédia em Qana, onde morreram dezenas de civis libaneses. A opinião pública mundial se irritou quando começaram a ser divulgadas as imagens das crianças mortas em Qana. "Para usar uma expressão do futebol, tão adorado por Ehud Olmert, a operação do Exército israelense no Líbano entrou na prorrogação depois desse ataque", opinou Aluf Benn, comentarista do jornal Haaretz.