Título: Tropas de Israel avançam no Líbano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Internacional, p. A16

Cerca de 10 mil soldados israelenses entraram ontem no Líbano - unindo-se às centenas que já realizavam incursões em território libanês -, um dia depois de o governo ter aprovado uma ampla ofensiva para empurrar o grupo xiita Hezbollah além do Rio Litani (ver mapa), como estratégia para evitar que continue lançando foguetes contra Israel.

As forças de Israel também iniciaram uma ofensiva no nordeste, perto da fronteira síria, numa região que é forte reduto do Hezbollah. Na noite de ontem, centenas de soldados de elite desembarcaram de helicópteros num hospital administrado pelo Hezbollah na cidade histórica de Baalbek, no Vale do Bekaa. Ao mesmo tempo, a aviação israelense bombardeava intensamente áreas ao redor.

Segundo a TV Al-Manar, do Hezbollah, combatentes do grupo travavam ferozes confrontos na área do Hospital Al-Hikma. Um porta-voz do Hezbollah garantiu de madrugada que comandos israelenses estavam dentro do prédio, cercados pela milícia. Mas, no início da manhã local de hoje, o Exército israelense anunciou que capturou e levou para Israel "vários" militantes do Hezbollah e não sofreu baixas. Fontes de segurança libanesas disseram que apenas três "membros de baixo escalão" do Hezbollah foram capturados - um deles com o mesmo nome do líder do grupo, Hassan Nasrallah. Pelo menos 15 civis morreram em bombardeios israelenses na área de Baalbek, acrescentaram as fontes.

No sul libanês, os combates também foram pesados. Os soldados israelenses entraram por quatro pontos distintos, com o objetivo de criar uma "zona de segurança" até a altura do Rio Litani, situado a quase 30 quilômetros da fronteira. Com isso, o Exército pretende impedir disparos de foguetes contra o norte de Israel e a aproximação do Hezbollah da fronteira.

Do lado israelense o saldo oficial era de três soldados mortos ontem e cinco feridos. O Hezbollah não divulgou suas baixas, que segundo os israelenses totalizam 400 mortos em 21 dias de confronto. O grupo nega esse saldo e só admite a perda de 43 combatentes.

Antes do avanço das tropas, a aviação lançou folhetos em vilas onde o Hezbollah é ativo pedindo à população que abandone a região. A Força Aérea vai reiniciar os bombardeios em larga escala no Líbano na manhã de hoje, depois de uma suspensão parcial de 48 horas para permitir a saída de refugiados e a entrega de ajuda humanitária. Essa trégua foi decidida depois que o país bombardeou Qana, matando 56 civis.

Oficialmente, o comando militar diz que as tropas só permanecerão na área até a chegada de uma força internacional de paz à região. No entanto, com a ampliação da invasão israelense e o anúncio da retomada dos bombardeios em larga escala, os esforços diplomáticos estão estancados. Ontem o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, remarcou para amanhã em Nova York o encontro dos países dispostos a contribuir com uma força de paz para o sul do Líbano. Pouco depois, a França, um dos países que pressionam pelo cessar-fogo imediato, anunciou que boicotará a reunião.

Depois de um encontro ontem com a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, o vice-primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, afirmou que o cessar-fogo será questão "de semanas". Condoleezza, porém, disse que a trégua é "questão de dias".