Título: 'Oposição brinca com aposentados', diz Lula
Autor: Denise Madueño, , Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2006, Economia, p. B1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou ontem a oposição de fazer "brincadeira" com a correção das aposentadorias. "Se querem dar aumento para quem quiser, coloquem no Orçamento e digam de onde vão tirar o dinheiro", disse. "Não podemos permitir que por conta de uma eleição se faça banalidade com a economia brasileira, que não pode suportar brincadeira neste momento." Ele afirmou, porém, acreditar que o Congresso será "responsável" e tratará o tema com cuidado.

Lula fez esses comentários à noite, na abertura do 18º Congresso Nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), quando estava claro que havia fracassado, novamente, a tentativa de votar a Medida Provisória 291, que corrige aposentadorias maiores que um salário mínimo em 5%. O governo estava disposto a levá-la à votação, mesmo com risco de ser derrotado pela oposição, que defende correção de 16,67%. Mas os deputados aliados não quiseram sofrer o desgaste de defender um reajuste de 5%.

A correção das aposentadorias era o primeiro item da pauta de votações. Sem o acordo, os demais projetos não foram discutidos e o saldo do primeiro dia do esforço concentrado do Congresso, que termina amanhã, foi zero.

Se a MP dos aposentados não for votada perderá a validade no dia 10. Nesse caso, o governo precisará encontrar uma solução jurídica para manter a correção em 5%. Não será possível ao Executivo enviar outra MP tratando do assunto.

A votação da MP 291 se arrasta desde junho. A oposição insiste nos 16,67% para obrigar Lula a tomar uma atitude impopular, vetando o aumento. A correção de 16,67% já foi vetada por ele, pois a oposição a incluiu no texto da MP que fixou o salário mínimo em R$ 350.

O líder interino do governo, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), tentou convencer deputados da base a votarem a MP para destrancar a pauta da Câmara com sete medidas provisórias paradas. De manhã, se reuniu com Lula e com os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, de Relações Institucionais, Tarso Genro, e da Previdência, Nelson Machado, e recebeu a orientação de votar. Mas faltou estímulo da base. "Faltam quórum, ânimo e disposição", resumiu o líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE).

A base teme votar a favor dos 5% e ter seus nomes explorados por adversários na campanha eleitoral. "O deputado sabe que os votos do painel eletrônico vão imediatamente para as praças públicas", disse José Múcio.

O líder do PT, deputado Henrique Fontana (RS), manteve a disposição de impedir a votação do índice maior. "Não posso aceitar a idéia de que temos de votar duas vezes o mesmo assunto no mesmo ano."