Título: Sigilo da Operação Cerol foi quebrado
Autor: Marcelo Auler
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2006, Nacional, p. A12

O grampo telefônico que gravou conversas de policiais federais suspeitos de vender favores a advogados e empresários - esquema investigado pela Operação Cerol - acabou mostrando que houve vazamento de informações.

A operação, deflagrada na sexta-feira, prendeu 17 pessoas, entre elas seis delegados federais, dos quais dois são ex-superintendentes da PF no Rio. Um deles, José Milton Rodrigues, já tinha deixado o cargo quando, numa tarde, ligou para a mulher e repassou as informações que acabara de receber da superintendência: estava sendo investigado.

Na sexta, durante busca e apreensão na casa do advogado Tarcísio de Figueiredo Pelúcio, a prova da quebra do sigilo estava em dois pedaços de papel. Memorando da própria polícia revelava telefones monitorados pela ação. E bilhete manuscrito, de Pelúcio para Rodrigues, alertava sobre a iminência da devassa. O vazamento foi classificado como "extremamente grave" pelo atual superintendente, Delci Teixeira. Agora, a polícia quer descobrir os responsáveis.

As ligações de Pelúcio com os federais do Rio são profundas e diversificadas. Até janeiro de 2004, segundo dados da Receita, ele foi sócio de Lídia Isabel Ferreira Rayol, mulher do delegado Antônio Carlos Rayol, que em outubro de 2004 prendeu Duda Mendonça em uma rinha de galos.

Rayol, por sua vez, tem notório desentendimento com o ex-delegado-executivo da superintendência do Rio, Roberto Prel, também investigado pela operação. Segundo Rayol, a sociedade de sua mulher com Pelúcio durou um ano. Após desentendimento, hoje não se falam.

Mas as disputas entre os delegados não incomodavam Pelúcio, que, mesmo tendo sido sócio da mulher de Rayol, mantinha com Prel grande amizade. Eles eram vistos constantemente almoçando em bons restaurantes junto com José Milton Rodrigues. Certa vez foram filmados pelos investigadores deixando o restaurante da sede social do Jockey Clube.

José Milton Rodrigues também foi gravado recebendo favores. A um diretor da operadora de planos de saúde Amil forneceu porte de arma, furando a fila e apressando a liberação de documentos enviados a Brasília. Em troca, ouviu a promessa de receber um "presente". Não recusou, só recomendou que o enviasse para a sua casa.

Essas trocas de favores eram prática comum entre policiais agora acusados. Diretores da Vigban, após conseguirem arquivamento de inquérito, deram emprego a um parente de um policial. Em outro caso, enviaram R$ 1.000 para pagar despesas de festa que policiais fizeram com prostitutas.