Título: Política econômica muda a rota
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2006, Economia, p. B1

¿O transatlântico está começando a virar.¿ É assim que um integrante da equipe econômica define o atual momento da condução da política econômica. Não se trata de derrubar os pilares que garantiram a estabilidade até agora, como as metas de inflação e o superávit primário, nem de dar uma guinada drástica na economia ainda este ano. Mas outros componentes, como uma política mais agressiva para investimentos públicos e de redução dos juros cobrados pelos bancos, entram em cena.

Nos quatro meses em que está à frente do Ministério da Fazenda, ministro Guido Mantega fez o que prometeu na posse: não mudar a política econômica. Aos poucos, no entanto, em meio à campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva e com o patrocínio da poderosa ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ele está imprimindo uma agenda diferente do antecessor Antonio Palocci.

Sem muito espaço para grandes movimentos, Mantega orienta a política econômica para o lado ¿desenvolvimentista¿ e menos ¿fiscalista¿. Nesse quadro, o Banco Central tem perdido influência nas decisões da Fazenda. De olho em 2007, determinou que sua equipe elaborasse medidas que possam turbinar o investimento e o crescimento da economia, com novos incentivos ao setor produtivo.

Essas mudanças já estão em estudo, mas só deverão se tornar visíveis num eventual segundo mandato de Lula. Com essas medidas, o ministro prepara as bases de um plano de ação para os primeiros meses de 2007, no caso da vitória do presidente. Se forem bem recebidas, ele também se cacifa para ficar no governo se Lula tiver mais quatro anos de mandato.

¿Ele (Mantega) está fazendo o que o BC não fez até agora. Procurar os bancos privados e os públicos para reduzir o spread. É uma grande mudança na prática¿, diz Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio (CNC). Spread é diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o que eles cobram dos clientes.Essa ação foi vista, inclusive, como pressão do Planalto junto aos bancos públicos para obter dividendos na campanha eleitoral. E, principalmente, como mais um sinal da subida de Mantega no palanque do candidato Lula.

DIÁLOGO

¿Eu acentuo o lado desenvolvimentista¿, admite Mantega, com a ressalva: ¿Eu não fiz nenhuma mudança de política econômica¿. Ele diz, no entanto, que ampliou o diálogo com o setor produtivo e até mesmo com o setor financeiro: ¿Tenho dialogado muito com o setor financeiro. É fundamental para aumentar o crédito e reduzir os juros.¿

Para o ministro, a política econômica ficou mais claramente desenvolvimentista porque entrou em nova fase. ¿Com inflação sob controle e o mercado interno se fortalecendo, temos mais liberdade¿, avalia. Segundo ele, a prioridade agora é o investimento para garantir a manutenção do desenvolvimento do País nos próximos anos. ¿Temos uma agenda importante de reformas. O que for possível faremos. O que não for possível deixaremos para o próximo governo¿, diz.

Para o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Nogueira Batista Jr., não há estratégia ordenada, mas as mudanças, embora leves, são perceptíveis, como a flexibilização da política fiscal e tributária e a aceleração da queda da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). ¿O que é difícil é saber se são mudanças vinculadas ao ciclo eleitoral ou se representam o início de uma inflexão¿, afirma Batista Jr. ¿O Palocci representava certas influências, certas forças. Com a saída, o Lula começou a não atender a toda expectativa desse grupo.¿

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, diz que a margem de manobra de Mantega para mudanças é muito pequena. ¿O Palocci tinha uma tendência fiscalista e Mantega um viés mais desenvolvimentista. Mas não houve tanto espaço para ele fazer o que gostaria¿, diz Vale, que não conta com ¿aventuras¿ nem agora, nem no próximo governo.