Título: Redução da fragilidade externa ajuda `virada do transatlântico¿
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/07/2006, Economia, p. B3

Para fazer a correção de rota do transatlântico econômico brasileiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, conta com um aliado poderoso: a drástica reversão na vulnerabilidade externa, que vem desde 1999, com a livre flutuação do dólar, e que foi acelerada a partir de 2003.

O motor desse movimento foi a balança comercial. Com sucessivos recordes, permitiu ao País reduzir a dependência de dólares especulativos e o endividamento externo e engordou suas reservas em moeda forte para enfrentar com tranqüilidade as mudanças de humor no mercado internacional.

Assim, o governo tem maior flexibilidade para reduzir juros e executar a política fiscal de forma menos radical, como vinha ocorrendo na gestão do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já que é capaz de conseguir mais dólares por meio das exportações e menos pelo mercado financeiro.

Para se ter uma idéia da mudança no setor externo, o saldo comercial de US$ 22,4 bilhões verificado de janeiro até a segunda semana de julho de 2006 está apenas US$ 2,4 bilhões abaixo do verificado em todo o ano de 2003 e 71% acima dos US$ 13,1 bilhões de 2002.

Movimento diferente ocorreu na dívida externa, que passou de US$ 210,7 bilhões em 2002, subiu para US$ 214,9 bilhões em 2003 até cair, em junho deste ano, para US$ 157,7 bilhões. Já as reservas internacionais, incluindo os recursos emprestados do Fundo Monetário Internacional (FMI), que fecharam o ano de 2002 em US$ 37,8 bilhões e subiram para US$ 49,3 bilhões em 2003, atingiram na última quinta-feira, já devolvidos os recursos do FMI, a marca de US$ 65 bilhões. É dinheiro suficiente para quitar tudo o que o governo federal deve no exterior.

Como mostrou o Banco Central (BC) na quinta-feira, esses movimentos levaram a que todos os indicadores de solidez no front externo melhorassem significativamente em termos históricos.

¿De fato, a melhora nas contas externas dá espaço para flexibilizar a política econômica¿, afirma o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e especialista em setor externo, Antônio Corrêa de Lacerda. ¿Um país que não emite moeda forte tem de manter suas contas externas ajustadas para não ter de manter juros muito mais altos para garantir os dólares necessários para fechar essa conta. Quando se tem elevada vulnerabilidade externa, a política econômica perde flexibilidade¿, argumenta.

Para o professor, embora seja possível perceber alguma correção de rumo na gestão Mantega, o governo tem agido aquém do que poderia, dada a atual situação das contas externas.

De acordo com Lacerda, há espaço para mais ousadia. ¿O Brasil permanece excessivamente conservador na política monetária e ainda há certa passividade na condução da política cambial¿, pondera.

Segundo ele, a própria sustentabilidade das contas externas ao longo do tempo depende de uma atitude mais firme da política econômica no sentido de reduzir mais os juros e atuar de forma mais incisiva contra a valorização do real, que atrapalha as exportações. ¿Essa situação positiva precisa ser melhor aproveitada pelo governo, até mesmo para que não seja revertida no futuro.¿